Ainda não é um mundo cor-de-rosa, mas os tons do arco-íris delineiam novidades na sociedade brasileira: cada vez mais livres das amarras do preconceito, os homossexuais já comemoram algumas vitórias importantes. Nos últimos dois anos, ganharam o direito de adotar crianças, de deixar pensão para os companheiros e até de desfilar pelas ruas, sem esconder sua opção. Em três Estados (Mato Grosso, Sergipe e Rio de Janeiro), no Distrito Federal e em 76 municípios, é crime discriminar gays e lésbicas. Novidades como estas prometem tornar ainda mais alegre a Parada do Orgulho Gay, no domingo 25, em São Paulo. A idéia é reunir 100 mil homossexuais. A expectativa dos organizadores é dar uma demonstração de força, que poderá servir como pressão para a aprovação do projeto de lei da então deputada federal Marta Suplicy (PT-SP), que legaliza a união civil entre homossexuais, parado no Congresso desde 1998.

Apesar dos entraves que o projeto de Marta encontra no Congresso, os homossexuais têm conquistado espaços em vários setores. Quando assumiu diante da família sua preferência por mulheres, há 20 anos, a enfermeira Bárbara Renato, 42 anos, foi expulsa de casa. De lá para cá, manteve a companheira e adotou um menino, hoje com sete anos. Na época, optou por uma “adoção à brasileira”, registrando a criança apenas em seu nome, como solteira. “Fiz isso porque temia ser reprovada se descobrissem minha opção sexual. Agora, vou entrar na fila para ter mais uma criança em casa. O fato de eu ser lésbica não significa incompetência para cuidar de um bebê”, diz Bárbara. O juiz Siro Darlan, titular da 1ª Vara da Infância e Juventude do Juizado de Menores do Rio, concorda com Bárbara. Ele já autorizou dez adoções por gays. Na Justiça gaúcha já correm processos semelhantes. “Minha preocupação é ampliar as possibilidades de uma criança encontrar uma família. Não faz diferença se o candidato a pai ou mãe é homo ou heterossexual”, afirma Darlan.

Foto: Renato Velasco
Paulo Cezar e Raimundo: “A vida melhorou muito nos anos 90”

O INSS também deu uma demonstração de liberalidade ao regularizar a concessão de pensões a viúvos de homossexuais, no mês passado. O instituto resolveu equiparar os direitos de gays aos dos heterossexuais após uma decisão da 3ª Vara Federal da Previdência, do Rio Grande do Sul. Em abril, a Justiça gaúcha concedeu pensão ao viúvo de um homossexual, criando jurisprudência nesses casos. Para ter direito ao benefício, o viúvo ou a viúva precisa comprovar, com documentos, que mantinha uma relação estável com o segurado. “A pensão funciona como um primeiro passo para reconhecer a legalidade dos casamentos homossexuais”, observa o cantor lírico Raimundo Pereira, coordenador do grupo Atobá. “Ainda há muito a fazer no interior do País, mas, nas grandes cidades, a vida dos homossexuais melhorou muito do final dos anos 90 para cá”, atesta Raimundo, que vive há dois anos com o professor Paulo Cezar Fernandes.

Público-alvo – A situação dos homossexuais melhorou a ponto de os organizadores da Parada do Orgulho Gay contarem, pela primeira vez, com patrocinadores. Empresas como G Magazine, Canadian Airlines, iG e StarMedia vão financiar 12 carros alegóricos. “Atravessar o centro financeiro do País empunhando a bandeira do movimento gay reforça a nossa identidade. As pessoas sentem que não estão sozinhas”, afirma Roberto de Jesus, presidente da Associação da Parada do Orgulho Gay. E não estão mesmo. A ONG Gay Lawyers estima em 16 milhões o número de homossexuais no Brasil – quase 10% da população. O mercado gay movimentou US$ 2 bilhões no mundo em 1999 e cresce a uma taxa anual de 30%. O setor turístico é um dos mais favorecidos. Nos últimos três anos, praticamente triplicou o número de agências especializadas no atendimento ao público homossexual – hoje, são 30 em todo o País. Uma das pioneiras, a Álibi, de São Paulo, faturou R$ 1,2 milhão no ano passado.

O potencial do mercado animou empresários paulistas a criarem a primeira Associação Comercial GLS do Brasil. Hoje, São Paulo tem cerca de 90 estabelecimentos simpáticos aos gays. São lojas como a Gay Pride, na rua Bela Cintra, ou a Futuro Infinito, uma livraria e café com acervo especializado em sexualidade, instalada na rua Oscar Freire, nos Jardins. “Nossa missão é mostrar que a cultura gay não precisa estar escondida em guetos”, afirma Sergio Miguez, proprietário da livraria.

O potencial do mercado animou empresários paulistas a criarem a primeira Associação Comercial GLS do Brasil. Hoje, São Paulo tem cerca de 90 estabelecimentos simpáticos aos gays. São lojas como a Gay Pride, na rua Bela Cintra, ou a Futuro Infinito, uma livraria e café com acervo especializado em sexualidade, instalada na rua Oscar Freire, nos Jardins. “Nossa missão é mostrar que a cultura gay não precisa estar escondida em guetos”, afirma Sergio Miguez, proprietário da livraria.

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Novo sexo
Foto: Ivaldo Cavalcanti
Jornal Hoje em Dia
Cirurgia foi sucesso

Os transexuais que quiserem fazer a cirurgia para mudar de sexo não precisam mais ir para a Europa, como fez Roberta Close. O Ministério Público do Distrito Federal está autorizando esse tipo de intervenção cirúrgica desde que se tratem de casos comprovados de transexualidade. A concessão da licença, inédita no País, é coordenada pelo promotor Diaulas Ribeiro. Em fevereiro foi operado o primeiro transexual. Não revela o seu nome, mas afirma que a operação foi um sucesso, resultando inclusive na aquisição de sensibilidade vaginal. O operado conseguiu até uma autorização da promotoria até para incluir um pré-nome feminino em sua carteira de identidade.

Para conseguir o aval, o transexual deve passar por exames com uma equipe de médicos, psiquiatras e psicólogos que podem demorar até dois anos. “Nós precisamos ter certeza de que se trata de um transexual, pessoa que tem uma disfunção entre o sexo físico e o psicológico. O transexual jamais pode ser confundido com o travesti”, explica Diaulas. De acordo com o promotor, o transexualismo é definido cientificamente como doença: “O transexual não usa o pênis para fins copulativos. Costumam dizer que o pênis, para eles, é como um câncer.”

Isabela Abdala


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