Todo dia o ser humano faz tudo sempre igual – inspira e expira cerca de 28 mil vezes. E como a respiração é um ato natural e instintivo, normalmente é feita sem que se preste atenção a ela. Porém, se for realizada de maneira mais consciente e correta, pode trazer diversos benefícios para a saúde física e mental. Entre eles, o aumento da capacidade de se concentrar, da percepção, da clareza mental, da energia e da paz interior.

É por isso que nos últimos anos vem crescendo o número de profissionais da
saúde e do bem-estar que se empenham em orientar seus clientes a melhorar
a qualidade da respiração. Nas aulas de ioga e meditação, cada vez mais procuradas, por exemplo, respirar direito faz parte dos objetivos a serem atingidos. Outra iniciativa são as aulas ministradas por voluntários da Fundação Arte de Viver, ONG atuante em 150 países, entre eles o Brasil. No intervalo de cursos sobre o tema em todo o País, eles percorrem favelas e regiões de baixa renda de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, entre outras cidades, para ensinar exercícios respiratórios que trazem alívio ao stress.

A coordenadora desse trabalho no Brasil, a chinesa Eng-an Chou, arregaçou as mangas para difundir o método pelo mundo afora depois que sentiu as transformações na própria vida. Após construir uma carreira executiva de sucesso, ela estava no auge do cansaço e à beira de um ataque de nervos quando um amigo insistiu para que fizesse o curso da fundação. A experiência foi tão intensa que, há sete anos, ela trocou o universo empresarial para se dedicar à difusão do método. “Senti que precisava dividir esse conhecimento. Se você recebe uma coisa tão boa, não tem como ficar sentado”, conta.

A técnica ensinada pela ONG é baseada no rico conhecimento indiano sobre o assunto – não se pode esquecer que a ioga nasceu lá. “É um método de respiração rítmica único. A maior oxigenação nas células purifica o organismo”, explica o médico americano James Farrow, pesquisador do tema, praticante dos exercícios e um dos profissionais que indicam a técnica como forma de ajudar no tratamento de seus pacientes, nos Estados Unidos. “Indivíduos com depressão sentiram melhora após uma semana de prática”, afirma.

Um bom exercício de respiração também é um recurso contra a ansiedade, mal extremamente comum e que afeta demais o ritmo da respiração. “O aumento da frequência respiratória pode causar tontura e até formigamento nas pontas dos dedos”, alerta a pneumologista Carmen Barbas, da Universidade de São Paulo. Com uma pausa para uma respiração profunda, restaura-se o equilíbrio.

Outro benefício é o aumento do auto controle. Essa possibilidade conquistou a estudante de direito Letícia Formoso Delsin, 23 anos. Ela fez o curso promovido pela Fundação Arte de Viver depois que sua mãe, Maria Márcia Delsin, melhorou de um insistente problema de falta de ar. Letícia, porém, notou que as mudanças foram ainda maiores. “Antes minha mãe era muito fechada. Não se falava sobre qualquer assunto em casa e as brigas eram mal resolvidas. Quando a vi mais aberta, relaxada e feliz, achei que deveria tentar”, conta. Após um curso de seis dias, Letícia já se sentiu mais disposta. A tranquilidade diante de situações difíceis a animou a ir além. “Agora frequento encontros semanais”, explica. A estudante também se engajou no trabalho voluntário para ensinar populações carentes a respirar melhor. Além disso, convenceu amigas de faculdade, o pai, a irmã de 20 anos e até o irmão de 13 anos a entrar na onda. “No meu irmão a transformação foi mais visível. Adolescente é muito nervoso e ele não fugia à regra. Hoje, momentos de explosões são mais difíceis de acontecer. Até a relação familiar ficou mais fácil. É claro que discussões acontecem, ninguém é de ferro. Mas são mais raras”, explica.