Parece piada, mas é puro business. Brasília, distante mais de mil quilômetros do litoral, quer liderar o mercado internacional da moda praia. Na próxima semana, dez microempresários brasilienses desembarcam em Bolonha, na Itália, para participar da mais importante feira européia de moda íntima e praia, a Intimare. Os biquínis confeccionados em Santo Antônio do Descoberto, Guará, Taguatinga, Gama e Sobradinho, cidades periféricas da capital, estarão na mesma passarela dos modelos Valentino, Kenzo, Gianfranco Ferré, La Perla entre outras renomadas grifes. Na bagagem irão 60 mil peças desenhadas para o mercado internacional. É a primeira vez que uma confecção de Brasília participa de um evento de moda no Exterior.

Para competir lá fora, a estratégia foi unir forças. Kentura, Uol Sports, Gyp, No Limits, Vento Radical, Tira de Pano, Zuzu, Shimada, Fran, Pris e Summer Shop formaram um consórcio com uma única marca: Flor Brasil. A idéia de vender o produto brasiliense para o Exterior vem sendo planejada há algum tempo. Brasília tem um dos melhores mercados nacionais de moda praia. Uma pesquisa realizada pelo Sindicato do Vestuário de Brasília (Sindivest) mostrou que enquanto a mulher brasileira compra em média duas peças por verão, a brasiliense consome nada menos que quatro biquínis. Com base nessa pesquisa, o Sindivest passou a incentivar e a direcionar confecções de fundo de quintal do Distrito Federal para esse mercado. “Os gringos ficam encantados com a nossa criatividade em colocar tanta bossa em peças tão pequenas”, conta Valquíria Aires, presidente do Sindivest.
Nem tão pequenas assim. O primeiro entrave que o produto brasiliense encontrou no mercado internacional foi o tamanho reduzido. Há um ano e meio exportando para os Estados Unidos, o microempresário Luiz Carlos Guimarães não entendia por que os estrangeiros adoravam seus biquínis, mas faziam encomendas modestas. Depois de sair do Brasil e ver os desfiles e vitrines no Exterior, descobriu que peças razoavelmente grandes eram consideradas pequenas. “O mundo inteiro gosta do biquíni brasileiro, mas, como ainda não há um trabalho de marketing, na hora de comprar eles preferem os modelos maiores.” Para a feira de Bolonha, Luiz contratou uma modelista de São Paulo que desenvolveu uma coleção tipo exportação, peças que talvez encalhassem nas prateleiras nacionais. Mas Luiz não desistiu. No meio de biquínis que mais parecem shorts, ele mesclou algumas peças menores: “Não vou levar um fio-dental. Tabus não se quebram da noite para o dia, mas fiz alguns modelos mais cavados para ver se passa.”