Antes mesmo de os hippies começarem a sobreviver vendendo bijuterias nas feiras de rua, suas casas eram divididas por coloridas cortinas de contas de vidro, bambu, conchas do mar ou qualquer outra coisa que pudesse ser pendurada num fio de náilon. Até hoje, principalmente nas casas do interior e do Nordeste, as pessoas usam esse recurso para dividir o quarto da sala. Agora, as cortinas voltaram à tona e marcam presença nas casas mais descoladas e até mesmo em ambientes clássicos.

Prova disso é que a artista plástica inglesa Jacqueline Ducan, radicada no Brasil, faz sucesso com sua criação na 9ª Mostra Artefacto de Decoração, que acontece em São Paulo. Mais de 20 fios de náilon com três centímetros de espaço entre um e outro, exibem vários materiais: pedras transparentes, espirais de papel plástico, caracóis de vidro, contas e miçangas. O resultado é surpreendente. Jacqueline colocou seu trabalho como divisória de uma sala de estar e de jantar. “Não são apenas cortinas”, explica a artista. “Podem ser usadas como um biombo ou mesmo um quadro de parede.”

Fotos: André Sarmento

BANDÔS de 20 cm (R$ 80) ou compridas (R$ 220) são do ateliê Olá

Se Jacqueline trata seu trabalho como arte, outros começaram a fazer as cortinas como artesanato, sob encomenda, ao gosto do freguês. Cynthia Guryu e Mariana Munhoz, sócias do ateliê Olá, na Vila Madalena, em São Paulo, são um exemplo. Há dois anos, elas começaram a fazer as cortinas de várias cores e formas. Algumas são apenas bandôs, de 20 centímetros de altura, para enfeitar portas e janelas e nem todas precisam formar algum desenho ou terminar com a “bainha” reta. Mariana acredita que a nova onda nasceu com a moda das bijuterias de miçangas. “As bijuterias grandes, exageradas, de miçangas foram o maior sucesso. Quando percebemos, estávamos fazendo as cortinas também. Todo mundo adorou e começaram as encomendas. Mas não é um trabalho simples”, diz ela.

É verdade. Enfiar pedrinha por pedrinha num fio de náilon e conseguir um resultado bonito não é assim tão simples. Mas as artesãs acham que vale a pena. “Essas cortinas tão usadas nos anos 30, bem antes, portanto, dos hippies, dão um toque bem-humorado na casa. Na minha opinião, hoje em dia os acessórios são o ítem mais importante numa decoração. Um abajur diferente, almofadas coloridas, um vaso pintado, um bandô de contas tiram a seriedade do espaço”, afirma Mariana. “Qualquer um desses acessórios corta o gelo do clean, dá um tremendo alto astral numa casa.”