Imagine uma cidade no Brasil, pequena, sem poluição, sem violência, segurança total e cheia de gente chique e bem cuidada, circulando pelas ruas do centrinho. Assim é boa parte de Campos de Jordão, uma versão tropicalizada de Aspen – famosa estação de esqui de milionários localizada no Estado de Colorado, nos Estados Unidos. Os seus quase 1.800 metros de altura, o clima frio, as ruas estreitas e os prédios em estilo europeu atraem as famílias endinheiradas de São Paulo e de quase todo o País. Muitas delas têm mansões maravilhosas – algumas avaliadas em R$ 10 milhões – para usufruir nos fins de semana. Mas em julho, alta estação, o pacato aconchego da elite vira atração turística. Ônibus lotados, hotéis mais do que cheios e engarrafamentos mudam a paisagem. A cidade, de 50 mil habitantes, passa a ter também uma população itinerante de pelo menos 1,2 milhão. Mesmo assim, não perde a graça nem o charme. Parece que todos curtem a badalação. Tantos os proprietários de luxuosos chalés quanto os turistas de primeira viagem gostam de ser vistos, curtir todas as atrações da cidade, paquerar, enfim, se exibir – cada um a seu modo – sem constrangimento.

Este ano, a cidade promete ainda mais agito. Alguns empresários, por exemplo, chegam a investir pesado na alta temporada, quando a temperatura cai, às vezes, abaixo de zero. Há uma semana, foi inaugurado mais um shopping, o Market Plaza 2, com grifes famosas, idealizado pelo empresário João Dória Jr. O novo paraíso de consumo é todo feito com toldos brancos e azuis, com aquecedores a gás nos corredores, para conforto de seus clientes. O negócio parece bom. Dória calcula que cada um dos 1,2 milhão de turistas deve gastar a média diária de R$ 300. “Cerca de 10% dessas pessoas, ou seja, 120 mil, gastam mais do que isso por dia”, afirma. Além do Plaza 2, ele ainda arrendou o Market Plaza 1, um prédio em estilo normando.
Contando os dois lugares, Dória comanda 36 lojas e 56 lanchonetes, bares e restaurantes. Inclui-se a lista o Flag, uma espécie de lounge e dancing sofisticado, feito para adultos. “Enquanto a garotada vai para as discotecas, os pais jantam e dançam aqui”, explica Dória. “Este ano, Campos vai marcar época”, aposta. O mais incrível é que tudo isso vai durar apenas 40 dias. Dia 30 de julho, acaba a festa e os empreendimentos fixos de Dória, como o Plaza 1 e o Flag, só reabrem nos feriadões.

Além desse arsenal de consumo, há vários outros eventos, como o tradicional Festival de Inverno, com concertos de música clássica, exposições, leilões e sorteios que rolam dia e noite. O portal StarMedia, por exemplo, garantirá algumas dessas atrações. A empresa alugou um terreno em pleno centrinho para mostrar os seus produtos. Qualquer um pode usar os 20 computadores em exposição, mandar e-mails, navegar na Internet, enfim, brincar sem gastar um tostão e, de quebra, assistir a shows musicais.

Se é sábado, provavelmente vão comer uma feijoada no The Place, que abriu um restaurante lá só para funcionar na alta estação. Para garantir uma boa digestão, passeiam pelos pequenos e grandes shoppings, compram mais um relógio Swatch ou um Bulgari último modelo. Dão uma olhada na vitrine da Gap com roupas amarelas – cor da moda na serra, deste ano – ou entram na Bally, localizada num shopping menor, ao ar livre, para ver a bota forrada com pele de coelho de R$ 650. De quebra, visitam o estande da Spirit Multi Boats para namorar barcos de grande porte, alguns no valor de US$ 4 milhões. Em meio a montanhas, distante de mares e rios, Márcio Christiansen, dono do negócio, sonha alto: “Logo vem o verão e os consumidores vão se interessar por lanchas e iates para curtir na praia”, diz.

Enquanto isso não acontece, os clientes curtem o bom do frio e aproveitam para esquentar seus cachorros. Vestem os bichinhos com casacos de pele ou coleiras Gucci compradas na Le Chien – Pet Shop. Regina Piva, ex-modelo e dona da nova grife canina, só tem uma dificuldade no momento: conseguir o cão da moda, o westwhite higland terrier, aquele simpático au-au do portal iG. “Houve a moda do poodle, do labrador e agora todos querem o totó do iG. Achei uma ninhada mas o dono pediu R$ 2.500 por filhote. Absurdo!”, conta Regina. Ela ainda procura jóias para fazer piercing nos pets.

Foto: Hélcio Nagamine

Regina Piva, dona de um Pet Shop, não acha o cão da moda para vender: o terrier do portal iG

Black-tie – Com ou sem os seus cachorros, no final da tarde os habitués descansam numa cafeteria, degustando uma trufa da Godiva. No final do dia têm a opção de levar para casa um jogo de cama da Trousseau no valor de R$ 1.200, para embalar os sonhos dos hóspedes. Sim, os veranistas gostam de receber. Quando estão em casa, eles tratam seus convidados com elegância, rodadas de pôquer, sessões de videokê, banquetes e não raro festas black-tie como a que Yara Baumgart organizou para estrear seu chalé. “Num outro fim de semana, convidei amigos da Argentina”, conta Yara. “Eles ficaram impressionados. Acharam Campos algo de Primeiro Mundo. E é mesmo. É a nossa Aspen sem neve!” Ou como definiu o turista e farmacêutico Antonio Menezes: “Me sinto numa reserva ecológica de ricos.” Antonio curtiu a própria piada e também a viagem. Afinal, ele jamais tinha visto de perto como as celebridades curtem a vida. “Nunca vi tanta gente bonita e carros bacanas. Eles devem ter um vidão!”, presume.