Não foi só uma vez, nem duas, que o navegador brasileiro Amyr Klink ouviu previsões catastróficas a respeito de sua viagem sem escalas ao redor da Antártica. “O barco vai capotar e vocês vão morrer”, diziam alguns sobre o Paratii 2, que levou oito anos para sair do papel e se tornou o primeiro veleiro monocasco a dispensar o lastro fixo a bordo, ao contrário da maioria das embarcações, que levam chumbo como contrapeso. O barco foi projetado para vencer as hostilidades da Antártica, onde as ondas alcançam 25 metros de altura e os ventos ultrapassam os 100 quilômetros por hora.

Além de ser um teste de resistência moral e técnica, a expedição pelo continente gelado teve outros diferenciais. Acostumado a jornadas solitárias, dessa vez o aventureiro levou outros cinco tripulantes a bordo do Paratii 2. Um deles era o naturalista Haroldo Palo Júnior, que ganhou fama internacional ao registrar as primeiras imagens do boto-cor-de-rosa na expedição do francês Jacques Cousteau pela Amazônia. Os demais tripulantes eram fotógrafos e cinegrafistas do canal pago de televisão National Geographic.

O resultado da saga pelos mares gelados pode ser visto a partir do domingo 6, às nove da noite, quando será exibido o primeiro dos quatro episódios do documentário Continente gelado com Amyr Klink. A série, exibida todos os domingos de março, mostra os bastidores, as dificuldades e as belezas da primeira viagem sem escalas ao redor da Antártica.

A expedição de 77 dias partiu de Paraty, no Rio de Janeiro, em novembro de 2003, em direção a Port Lockroy, o ponto de partida para a circunavegação sem escalas. Nesses quase três meses de viagem, a tripulação avistou centenas de elefantes-marinhos, milhares de pinguins e aves marinhas. O aventureiro Klink aproveitou para visitar alguns dos locais onde esteve em outras de suas 14 expedições pela Antártica. Numa delas, em 1989, ele passou seis meses imobilizado pelo gelo.

Dessa vez não houve contratempos. O que se vê na série são o planejamento e a preparação física e psicológica dos tripulantes, que tiveram de superar vários desafios pessoais.

A expedição também foi palco para testar diversas inovações. Uma delas
é o óleo diesel desenvolvido pela Petrobras especialmente para a viagem.
Menos poluente, mais fluido e resistente às baixas temperaturas, ele deve
chegar ao mercado em 2006.