O Carnaval de 2001 foi diferente para Karina Gazano, 23 anos. No auge de uma festa em Santos, no litoral de São Paulo, ela sentiu uma sorrateira mão em seus belos glúteos. Em segundos, o autor do gesto estava no chão, nocauteado pelo golpe de jiu-jítsu que Karina lhe aplicou. “Me senti vingada”, diz. Há um ano e meio, Karina faz parte do crescente time de mulheres que procuram as artes marciais para manter a forma e se defender da violência. “Gosto de sair à noite e não me sentia segura”, confessa. Além de adquirir um abdome e bumbum sarados, agora ela se sente mais protegida.

Mas essa não é a principal causa que leva as mulheres a malharem no tatame. “A maior parte de minhas alunas chega na academia porque tem uma amiga que já pratica jiu-jítsu e perdeu peso”, observa Maximiano Trombini, 32 anos, coordenador da modalidade na Academia Athlética, em São Paulo. De acordo com o professor, a luta é suave, não provoca lesões e não requer força, tamanho ou peso. Por isso a excelente adaptação do sexo feminino. Em duas horas de aula, a perda vai de 800 a mil calorias. “Faz-se uma atividade completa e a pessoa ainda aprende a se defender”, acrescenta.

O jiu-jítsu mexe com toda a musculatura do corpo. O treinamento é feito à base de exercícios aeróbicos. As mulheres usam chave de perna, de braço e estrangulamento para dominar seus oponentes. E também há um bom trabalho para a definição do abdome. Na Companhia Athlética, a procura feminina cresceu nos últimos três anos e hoje já há 30 alunas.

Nas contas de Leonardo Fulchignoni, 26 anos, treinador de body combat na Academia Henrique Ibéas, no Rio, o interesse feminino em lutas é semelhante. No body combat, as alunas chegam a queimar 700 calorias por aula com exercícios rápidos e intensos, de baixo impacto (os pulos são rentes ao chão). Antes de iniciar a aula, Fulchignoni sugere que a turma extravase a tensão socando o Bob, um boneco de borracha com cara de mau. Em seguida, ao som de músicas contagiantes, elas socam, chutam, dão cotoveladas, fazem movimentos de boxe, tai chi chuan, karatê e kung fu, em ritmo de aeróbica. “Saio pingando. Pulamos o tempo todo”, descreve a modelo Vanessa de Oliveira, 31 anos, praticante da modalidade. A arquiteta Januária Guimarães, 24 anos, faz coro. “Os movimentos ajudam a definir o abdome e os braços”, afirma.

Outra modalidade que começa a atrair cada vez mais as mulheres é o krav magá, luta de origem israelense. O professor Leo Miller, 38 anos, ensina a técnica há três anos em academias em Botafogo e na Barra da Tijuca, no Rio. Está com 50 alunas. Débora, personagem da atriz e modelo Susana Werner, 23 anos, na novela Um anjo caiu do céu, utiliza esse e outros métodos para atuar como espiã: “Agora, o homem mais forte do mundo não conseguirá me segurar pelo braço”, festeja Susana. “As pessoas fazem as aulas para se sentir mais seguras e manter a forma”, acrescenta Miller.

Susana passou uma semana fazendo sessões diárias de quatro horas de duração. Gostou tanto que adotou o professor como uma espécie de instrutor particular, que lhe ensina nas horas vagas as mesmas técnicas usadas pelos grupos de elite do Exército israelense. Segundo Miller, a técnica aprimora a coordenação motora e o equilíbrio, além de exercitar todos os músculos do corpo. Dependendo da intensidade da aula de uma hora de duração, a queima é em média de 800 calorias. “O desgaste físico é muito grande”, argumenta o professor. Ele esclarece que não se trata de uma arte marcial, mas de uma técnica de defesa pessoal. “Os alunos não aprendem a bater, só a se defender.” Mesmo sem usar nenhum golpe, a secretária Jaqueline Aquino, 30 anos, conseguiu escapar de um assalto no ano passado no Rio. “O krav magá não faz a mulher se sentir uma heroína, mas a deixa ficar mais segura”, conta.

Realmente, as mulheres ganham em segurança e forma física. Mas de acordo com o fisioterapeuta Ronaldo Aguiar, 34 anos, do Flamengo, quem busca as artes marciais deve saber que o aumento de massa muscular não é grande, a não ser que a aluna complemente as técnicas com aulas de musculação. Em compensação, não há contra-indicações em nenhuma das três modalidades. Além disso, as alunas que sofrem com tensão pré-menstrual, a temida TPM, vão sair ganhando. “Qualquer atividade física libera substâncias que reduzem o mau humor”, assegura Aguiar. Saradas, seguras e felizes… Os homens que se cuidem.