Aqueles que têm saudade do tempo em que o Big Mac vinha numa caixa de isopor, em que a tevê de casa só tinha sete canais e em que a Fanta Uva era a bebida da moda já podem comemorar. O Atari, bisavô dos videogames, ressuscitou a pedido dos fãs. Programas de simulação, que permitem aos saudosos jogar os clássicos Space Invaders (Invasores do espaço) e Pac-Man (o popular Come-Come) em qualquer computador, viraram mania nos Estados Unidos. A empresa Infogrames, que comprou os direitos de uso da marca Atari da Hasbro, lançou duas versões para PC do jogo Frogger – aquele em que um sapo tinha como missão atravessar uma estrada. O primeiro cartucho vendeu seis milhões de cópias. O segundo, lançado no final do ano passado, aproxima-se da marca do um milhão de unidades.

O número de usuários de simuladores de Atari ultrapassa os dez milhões. Mas os especialistas calculam que mais de 200 mil americanos não se contentam com os jogos de computador. Muitos deles vasculham seus armários para resgatar o jurássico console e jogar Atari como nos velhos tempos.

Jarrod McFarlane, 25 anos, um videomaker de Long Island, próximo a Nova York, tinha guardado todos os seus cartuchos em casa. No ano passado, ele e um amigo resolveram revirar o sótão de casa e encontraram o console empoeirado. “Passamos três dias seguidos jogando e nos lembrando da época em que eu era o bom no videogame”, conta McFarlane, que joga pelo menos uma vez por semana.

Nos anos 80, em seus tempos áureos, o Atari chegou a vender 20 milhões de consoles. Hoje, quem domina é o Playstation, da Sony, com 62% do mercado e 73 milhões de consoles vendidos. Numa indústria que movimenta US$ 7 bilhões ao ano e tem recursos cada vez mais modernos, a volta do Atari chega a ser irônica. “O Atari dá a noção do quanto evoluímos”, diz Sherleen Hom, programadora que tem 500 jogos de Atari em seu PC. “Os jogos eram todos em duas dimensões, usávamos aquele joystick rudimentar e o som era péssimo”, diz Curt Vendel. Ele fundou a Sociedade Histórica do Atari, que reúne 80 ex-funcionários da empresa e se dedica a preservar a memória do videogame. “Queremos manter vivo o espírito Atari”, diz Vendel. “Ele simboliza a rebeldia anti-Intel e anti-Microsoft. As pessoas querem sistemas mais simples e fáceis de aprender e o Atari representa tudo isso”, prega o fundador da sociedade, que, nos últimos 15 anos, reuniu fotos, documentos e exemplares dos vários modelos produzidos. Em busca de peças, Vendel chegou a revirar latas de lixo nos antigos escritórios da companhia na Califórnia.

A odisséia do Atari começou em 1972, quando dois engenheiros, Nolan Bushnell e Ted Dabney, fundaram a Atari Inc. com apenas US$ 600. Eles foram os primeiros a introduzir a pontuação nas telas, jogos com dois jogadores e cartuchos. O Atari 2.600 e jogos como Pac-Man, Enduro, Pitfall, Frogger e Space Invaders tornaram-se sucesso de público. A competição acirrada pôs fim à saga Atari na década de 90.

Facilidade – Eles demoraram para se modernizar”, diz Steven Kent, autor do livro The first quarter: a 25-year history of video games (O primeiro quarto de século: uma história de 25 anos dos videogames, numa tradução livre). Em 1996, a Atari vendeu seus últimos componentes para uma empresa chamada O’Sheas, que mantém um milhão de cartuchos num depósito subterrâneo.

O principal ponto a favor do Atari é justamente sua falta de sofisticação. A Infrogames criou um laboratório para criar adaptações dos jogos para celulares e Palms. Simples, esses jogos ocupam menos memória e são ideais para os PCs de mão.

Toda essa nostalgia nem sequer dói no bolso. Quem se desfez do videogame pode comprar um console por US$ 30 no site de leilões eBay. Os mais obcecados gastam um pouco mais com seu hobby. Algumas fitas raras, como o jogo Quadram, chegam a custar US$ 300. Nem por isso faltam interessados.

Malhação com som de primeira

Henrique Fruet

radição é tradição, mas o que conta na guerra dos videogames é a tecnologia capaz de deixar boquiaberto qualquer fanático por jogos. Os quase dez milhões de pessoas que compraram o Playstation 2 no Japão, na Europa e nos EUA que o digam. Além de executar games, o aparelho de US$ 300 tem processador de 300 MHz, toca CD e DVD – e, é claro, exibe gráficos perfeitos, que permitem enxergar o reflexo do céu na lataria dos carros nas partidas de corrida. Por enquanto, os brasileiros que quiserem curtir a novidade da Sony terão que importá-la ou esperar sentados, já que a empresa vai primeiro atender à demanda no Exterior para depois lançar seu console na América Latina.

Com capacidade gráfica duas vezes superior à do Playstation 2, o XBox é a aposta de Bill Gates para entrar nesse mercado bilionário. A briga será barulhenta, já que a Microsoft reservou meio bilhão de dólares para o lançamento do produto, no segundo semestre do ano nos EUA (no Brasil, ele chega em 2002). O XBox traz em seu coração um processador Pentium III de 733 MHz, toca músicas em CD e filmes em DVD. Detalhes técnicos à parte, o que conta é o resultado: o computador travestido de videogame, promete a Microsoft, terá imagem tão nítida que os olhos dos personagens refletirão a luz dos ambientes pelos quais eles circulam. É ver para crer, depois de pagar cerca de US$ 300, preço da engenhoca nos EUA.

Para completar a batalha dos consoles, a Nintendo prepara para o final do ano o lançamento de seu GameCube, que usará processador de 400 MHz e também abandonará os cartuchos – em seu lugar, adotará um disco óptico de formato exclusivo, uma espécie de mini-DVD da Panasonic com 8 cm de diâmetro. A vantagem está no preço, entre US$ 150 e US$ 200, e na capacidade de se ligar ao portátil GameBoy Advance. Com lançamento previsto para junho nos EUA, esse novo console pode funcionar como joystick quando ligado ao GameCube. Como se vê, o próximo Natal, pelo menos nos EUA, será recheado de personagens animados, tiros, saltos, socos, pontapés e muito corre-corre.