Não haveria título mais preciso para designar o sexto álbum de canções inéditas do quinteto lisboeta Madredeus do que Movimento. Afinal, o disco foi concebido sob a égide da estrada, durante quase um ano e meio, em concertos pelo mundo. Portanto, não há de se estranhar que as letras e as músicas criadas pelo violonista Pedro Ayres Magalhães transmitam um sentimento de melancolia, cujo mote é a saudade da terra natal e do amor ausente. Em seus versos despontam imagens de paisagens nada familiares, verdadeiras companheiras da irremediável solidão. Um sentimento coerente com as tradições musicais portuguesas.

Nos seus 15 anos de existência, o Madredeus recebeu o rótulo reducionista de fadista pop ou de vanguarda. Vai muito além da classificação. O quinteto renovou a música de Portugal com um estilo muito particular. A começar pela comovente voz de Teresa Salgueiro, que imprime delicadeza e emoção, transformando cada canção numa espécie de mantra capaz de transportar o ouvinte para uma dimensão quase espiritual. Sensação que o grupo transmite desde o início da carreira, não só pela escolha do nome de inspiração religiosa, como pelo fato de ter gravado o primeiro disco, Os dias de Madredeus (1987), num convento. Não por acaso, cada apresentação sua acontece dentro de um contexto ritualístico. Os músicos permanecem estáticos, o som dos violões é econômico, minimalista, tudo para enfatizar a performance arrebatadora de Teresa Salgueiro. Tal atmosfera etérea e solene abriga, porém, questões bem terrenas. As letras de Pedro Ayres falam da angústia real dos apaixonados em seus mais abrasadores desejos.