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Equipe de TV acompanha festa dos moradores de Lagarto:
comerciantes distribuíram camisas com as cores da Espanha e do Brasil

Diego Costa desembarcou, esta semana, em Lagarto, sua cidade natal, localizada a 75 quilômetros da capital sergipana, Aracajú, com vontade de assistir a alguns jogos e curtir um pouco a Copa. Sim, porque desfrutar da sua estreia em mundiais foi tudo o que ele não pode fazer. Não bastasse o péssimo futebol apresentador pela atual campeã Espanha, equipe eliminada na logo na primeira fase que ele resolveu defender após recusar uma convocação da Seleção Brasileira, na arquibancada Diego contava com uma quase nação de brasileiros que jogava contra ele. Nos dois jogos em que atuou, nas derrotas para Holanda e Chile, o sergipano de 25 anos não teve paz, foi marcado impiedosamente por seus conterrâneos, que o vaiaram e o xingaram a cada toque dado na bola. “A família toda ficou constrangida ao ver brasileiros vaiando o Diego. Mas vaiaram até mesmo a presidente Dilma. Então, temos que relevar”, diz Jair Costa, irmão do jogador.  

Em Lagarto, porção de terra nordestina habitada por aproximadamente 100 mil pessoas, a situação é completamente diferente. Lá, o atacante-sensação da Liga Espanhola, campeão este ano com o Atlético de Madrid, pode, enfim, sentir-se bem recebido. “Mas ainda não consegui ver nenhum jogo porque é um entra e sai aqui em casa de gente que vem me ver e conversar”, disse Diego, na quarta-feira 25, a um grupo de amigos que o visitou. Na cidade, a pecha de traidor da pátria que o tornou alvo preferido dos torcedores não pegou. Pelo contrário: recebeu em casa uma comitiva da prefeitura local e aceitou o convite para ser homenageado na sexta-feira 4. “Ele irá receber uma placa por ser um embaixador da cidade pelo mundo”, explica Rilley Guimarães, secretário de Esportes do município. “Ele relutou um pouco porque quer evitar aparecer em momentos de confraternização para não ferir mais ainda o sentimento do povo espanhol já triste com a eliminação da sua seleção.”

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Diego Costa (direita) ao lado do secretário de esportes de Lagarto,
Rilley Guimarães: reconhecimento ao filho da terra sergipana

Nesse dia de homenagens, um trio elétrico com os dizeres “Lagarto fechado com Diego” deverá circular pelas ruas da cidade acompanhado de um bloco em direção à praça, onde o jogador receberá a placa das mãos do prefeito. “Muita gente deixou durante a Copa deixou claro que torcia pelo Diego”, conta o empresário Laelson Correa, amigo do jogador. “Equipes da HBO espanhola e do Canal Cuatro estiveram aqui durante os jogos.” De fato, Lagarto se mobilizou para prestigiar os jogos do filho ilustre. Um telão de LED de 200 polegadas foi instalado na praça central, local onde os lagartenses se reuniram para assistir aos jogos da La Roja. Antes e depois de cada partida, apresentações de quadrilha e um trio elétrico animavam a festa. Em postes, foram penduradas bandeiras da Espanha, do Brasil e fotos de Diego Costa. Mais: comerciantes locais confeccionaram cinco mil camisetas, nas quais os uniformes da Espanha e do Brasil dividiam um mesmo espaço.  

Diego Costa nunca jogou uma partida profissional no Brasil. Construiu sua carreira em Portugal e na Espanha, principalmente – daí a sua opção por defender o país ibérico. Pagou, porém, um preço alto por essa escolha. Seus pais e outros familiares, que foram prestigiá-lo na estreia da Espanha contra a Holanda, em Salvador, por pouco não se viram no meio de uma briga com torcedores que xingavam o atacante hispânico-brasileiro. “Alguns parentes quase partiram para as vias de fato com quatro pessoas no estádio. Só não foi assim porque os torcedores viram a foto de Diego estampada nas camisetas da turma e se deram conta de que podiam ser familiares”, conta o empresário Correa.  

Jair, o irmão de Diego, disse que não assistiu a nenhum jogo da Seleção brasileira e não pretende assistir. “Por tudo o que aconteceu a gente pega até raiva, sabe?”, explica. Semana passada, o ex-jogador Zico criticou a postura de treinador da Seleção Luiz Felipe Scolari quando este afirmou que o sergipano deu “as costas para o sonho de milhões” de brasileiros ao preterir o Brasil pela Espanha. “Tenho o maior respeito pelo Felipão, mas ele foi um dos grandes responsáveis por isso”, disse o Galinho de Quintino. “Ele jogou o rapaz contra a torcida brasileira. Isso não é justo.”