Ao longo de sua jornada de 59 anos de vida pública, o senador e ex-presidente do Brasil José Sarney contabiliza meio século de poder. É uma arte pragmática e dela faz parte, vez ou outra, o blefe do anúncio da aposentadoria. Na semana passada, a exemplo do que já fez em outras ocasiões, Sarney declarou que está abandonando a vida pública. Sarney foi o primeiro presidente civil depois da ditadura militar que durou duas décadas e deixou o governo a um sucessor escolhido pelo povo em eleição direta. Durante sua gestão comportou-se como um democrata, alternando momentos de enorme prestígio e intensa rejeição. A popularidade veio com o primeiro Plano Cruzado e a desgraça com a volta da inflação, denúncias de corrupção e manobras espúrias para aumentar seu tempo de mandato. Sarney saiu do Palácio do Planalto em baixa, mas jamais abriu mão do poder, compondo-se com todos os seus sucessores, fosse qual fosse o matiz ideológico.