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Esta edição de IstoÉ circula exatamente na quarta semana da Copa no Brasil. Se há alguma coisa de que não precisamos num momento como este, é de mais um palpiteiro tentando desvendar os segredos inexpugnáveis do “outro lado do mundo da bola”. 

Dito isso, cabe explicar que, apesar de admirar profundamente os mistérios e a graça do fenômeno místico/físico/sociológico popularmente conhecido por futebol, não sou do tipo que acompanha jogos pela tevê nas quartas-feiras, vai a estádios com alguma frequência ou manda torpedos caçoando dos colegas de trabalho cujos times perderam um jogo do campeonato. Tenho preguiça de ler sobre os jogos e mudo de canal na hora dos gols nos programas de domingo. Importante frisar: gosto muito de futebol, mas não gosto tanto de tudo o que há em volta dele, em especial o excesso de teorização, os sábios de mesas redondas, mitificadores profissionais, comentaristas grosseiros, torcedores agressivos , estádios perigosos, uniformes cheios de marcas, dirigentes estúpidos e corruptos com cara de mafiosos de filme de Mazzaropi e outras mazelas e chatices. Assim, procuro focar em alguns assuntos e personagens, como se fechasse a lente em busca de proteger e resgatar algo que tende a se perder no meio de tanto dinheiro e da  ignorância que o futebol foi magnetizando ao longo das décadas. Seleção, claro, é algo acima de tudo isso, mas mesmo nela costumo dedicar atenção muito mais ao comportamento de figuras como o genial e enigmático Murtosa, uma espécie de “Mini-Me” , ou uma versão futebolística do Mionzinho, que, em vez de sombrear Marcos Mion, está sempre ao lado de Felipão.

O rosto do médico Runco, por exemplo, também sempre me intrigou. Passaria ele as noites em claro arrumando frascos de remédios e bandagens? Aproveitaria ele o fato de não ter de obedecer às regras rígidas impostas aos atletas e sairia das concentrações para noitadas sem fim? De onde, afinal, se originaria aquela expressão um pouco cansadae abatida de quem  administra uma ressaca ou algo parecido?

 Bem, todo esse introito para dizer que essa característica de uma espécie de outsider futebolístico que ao mesmo tempo aprecia a arte talvez tenha sido fundamental para que eu saboreasse mais ainda um convite tão inesperado quanto irresistível: passar cerca de 72 horas acompanhando a equipe do programa “Caldeirão do Huck” no encalço de alguns dos mais valorizados e festejados homens do futebol mundial.

A correria dessa visita rapidíssima a Londres e Barcelona gerou boas matérias no programa da TV Globo mencionado. O relato mais completo do que vi conhecendo um pouco da vida de David Luiz, Paulinho, Oscar e Neymar está numa longa reportagem na edição deste mês da revista de bordo da Gol, que gentilmente autorizou a publicação da foto ao lado. Mas há algo que ficou muito patente para mim, depois de vivenciar essa experiência única. Se tivermos algum êxito nesta Copa, ele terá uma dívida grande com uma turma que quase não aparece nas reportagens e nos álbuns de figurinhas: os amigos de infância e as cozinheiras brasileiras.

Talvez a única coisa absolutamente igual no “lifestyle” dos nossos jogadores que vivem no Exterior (100% entre os quatro que visitei) seja a presença de um ou mais amigos de infância ao lado dos nossos garotos.

Na imagem que você vê, por exemplo, além de Oscar e de um dos rostos mais conhecidos do Brasil, estão os incríveis Juninho e Boca. O segundo chegou a jogar bola seriamente, mas não teve tanto sucesso quanto o amigo. Juninho só bate bola de brincadeira. Ambos nunca tinham saído de Americana, interior de São Paulo, até aceitarem o convite do amigo famoso e irem passar alguns meses estudando inglês e curtindo ao lado de Oscar uma das fases mais intensas de sua vida, a espera pela Copa e pela primeira filha. Assim como Oscar tem a dupla Juninho e Boca, Neymar tem o já quase famoso Gil Cebola vivendo com ele e a família em Barcelona, e Paulinho importou o dele diretamente do bairro paulistano da Vila Guilherme. Os amigos de infância parecem exercer papel-chave no bem-estar dos nossos astros do futebol expatriados. São um elo importante dos atletas com suas origens tão diferentes e distantes do Velho Mundo.

A moça que é vista no fundo da foto é outra figura fundamental na comissão técnica do nosso craque da camisa 11. É a governanta e cozinheira brasileira Marizete. Ela conta que deixou a tão famosa quanto perigosa região do Capão Redondo, na zona sul da periferia paulistana, muitos anos atrás. Na Inglaterra casou, separou e se formou enfermeira. Trabalhava como cuidadora de idosos até receber o irresistível convite do jovem futebolista com nome de troféu hollywoodiano.

Lá está, cuidando com feijão, arroz, frango à milanesa e macarrão, do garoto, dos dois amigos e das visitas.
Acredite, se formos bem nesta Copa com um time de meninos em que mais de 80% dos jogadores vivem longe da terrinha, gente como Boca, Juninho, Marizete e muitos outros anônimos sangue bom, terão muito a ver com isso.