Ibama, o xerife ambiental, virou o culpado de tudo o que é atraso, uma espécie de bode na sala. Foi o presidente Lula quem o colocou na condição. Lula reclamou a amigos da intransigência do instituto. Num estouro de fúria, teria dito: “Se eu pudesse acabaria com o Ibama.” Lula é dado a rompantes, gosta de decidir movido por situações pontuais, sem enxergar lá adiante. O Ibama virou o bode de Lula e tudo por conta de um bagre. É esse o peixe que anda atrapalhando a licença ambiental que o governo tanto anseia para a construção de duas usinas hidrelétricas na bacia do rio Madeira, Rondônia. Os bagres sobem o rio para procriar. A construção das usinas – epopéico projeto, de R$ 20 bilhões, que alavanca o PAC de Lula – pode comprometer a rota dos bagres. Lula protestou: “Querem jogar o bagre no meu colo.” Como bom pescador que é, bem que Lula poderia gostar um pouco mais dos bagres. Já o Ibama, aquele na pele de bode – nunca na de cordeiro – , também deveria sair da birra e deixar de emperrar tudo quanto é projeto. Desde tempos imemoriáveis, o Ibama pára estrada por conta de ninho de passarinho, interrompe obras para salvar coelhos e deixa de lado qualquer prioridade econômica se no meio estiver um simples… bagre. A ministra Marina Silva, que responde pelo bode e quer preservar o bagre, diz que o meio ambiente não deve se submeter a interesses econômicos. Os ambientalistas saíram também em apoio. É a história de sempre: “Salvem as baleias”, “salve o mico-leão-dourado”, “salve o bagre”. E quem vai nos salvar do apagão energético? Claro, há sempre de se considerar o impacto ambiental e a preservação da natureza. Na era do desenvolvimento sustentável, soaria no mínimo politicamente incorreto desconsiderar essa premissa. Mas ambos, impacto e desenvolvimento, devem caminhar juntos e encontrar um denominador comum. Se vão para a briga, como numa rinha de galo, não se salvam nem o bode, nem o bagre, nem o pescador.