Em um pequeno país europeu, reduto de bilionários, um evento trágico comove o high society. Uma das mulheres mais ricas – e discretas – do lugar, herdeira de um império imobiliário, é alvejada dentro do carro, em um estacionamento de um hospital, por um criminoso que fugiu na garupa de uma motocicleta. Presume-se que seja uma emboscada, fala-se em máfia russa e italiana, mas o mistério persiste. Até que a polícia prende a filha e o genro da vítima, suspeitos de terem encomendado o crime para ficar com sua vultosa herança, na casa dos bilhões. Podia ser a sinopse de um filme dirigido por Alfred Hitchcock com pitadas de “O Poderoso Chefão”, mas trata-se de uma história real, que abala Mônaco desde 6 de maio, dia do atentado. Hélène Pastor, 77 anos, matriarca de uma das famílias mais ricas da Europa, dona de um terço dos imóveis do principado, levou os tiros ao sair do hospital onde visitava o filho, Gildo, 47 anos, que se recupera de um Acidente Vascular Cerebral. Ela morreu duas semanas depois. As investigações levaram à prisão, na segunda-feira 23, de Sylvia Pastor, 53, filha de Hélène, e Wojciech Janowski, 64, seu genro, junto com outras 21 pessoas. O motorista da bilionária, Mohamed Darwich, também foi atingido e faleceu dias depois.

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EM FAMÍLIA
Acima, o carro no qual Hélène Pastor (abaixo) foi alvejada no dia 6 de maio

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As informações disponíveis sobre o caso ainda são obscuras, o que dá margem a todo tipo de especulação. Donos de um conglomerado imobiliário, os Pastor poderiam ser alvo de crimes envolvendo dinheiro e disputa de poder. O número de detenções chama a atenção, sobretudo porque as pessoas que teriam ligação com o atentado foram capturadas em diferentes regiões da França: Rennes, Marselha e Nice – essa última, a cidade onde viviam Sylvia e o marido. De todos os presos pela polícia francesa, pelo menos 13, incluindo o genro da bilionária, continuarão sendo investigados formalmente. Segundo o jornal britânico “The Independent”, o promotor de Marselha Brice Robin afirmou existir evidências de que Janowski seria o mentor do crime e teria contratado a dupla de atiradores. A motivação seria a bilionária herança da matriarca. As investigações descobriram movimentações bancárias suspeitas dele que terão de ser explicadas à polícia. Formado pela Universidade de Cambridge, Janowski trabalhou em diversas empresas respeitadas da região e se tornou um homem de negócios. Desde 2007, é cônsul honorário da Polônia em Mônaco.

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Na semana passada, a polícia prendeu a filha dela,
Sylvia Pastor, e o genro, Wojciech Janowski (acima).
Eles são suspeitos de envolvimento com o crime

Há dúvidas se a filha, Sylvia, estaria de fato envolvida no crime, embora tenham surgido informações de que mãe e filha estariam se desentendendo por causa de questões financeiras. Ela também deve continuar presa até que mais dúvidas sobre o caso sejam esclarecidas. Entre os detidos figuram ainda os suspeitos de ter atirado nas vítimas. Os dois foram facilmente identificados porque deixaram pistas – não se atentaram, por exemplo, às gravações das câmeras de segurança. Também está preso um homem acusado de fazer ameaças à família Pastor e afirmar possuir informações sobre os assassinos que seriam reveladas em troca de dinheiro. A polícia ainda investiga a conexão de duas pessoas que intermediavam o contato direto com os assassinos.

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Embora a herança surja como forte motivação para o crime, a polícia não abandonou outras hipóteses. Ainda não foi descartado, por exemplo, o envolvimento da máfia com a morte de Hélène. Nessa linha de investigação, as suspeitas recaem sobre os dois grandes grupos criminosos italianos, a ‘Ndrangheta e a Camorra. Ambas tanto podem ter apenas algum envolvimento com o atentado como podem ser as próprias mandantes da tentativa de homicídio. Seguindo esse raciocínio, estariam interessadas em entrar no ramo imobiliário na Riviera Francesa e queriam expandir a área de domínio para a região de Mônaco. Eliminar a matriarca da família Pastor teria sido uma maneira de os mafiosos tomarem o poder no mercado, em uma ação digna de um discípulo de Don Corleone. Coisa de cinema.

Fotos: Jean Francois Ottonello/EFE; CENTAURO/French Select/Getty Images