Na quinta-feira 26, após a derrota por 2 x 1 para Portugal que selou a eliminação da seleção de Gana em Brasília, o capitão da equipe, ­Asamoah Gyan, disse que os problemas fora do campo “não serviam de desculpa” para a lanterna do Grupo G. “Passamos por momentos difíceis, fizemos uma reunião e esperamos ter resolvido a situação. Agora, temos que ser fortes e seguir adiante”, afirmou. A força chegou no dia anterior, quando o time recebeu US$ 3 milhões do país africano depois que jogadores deixaram de treinar e ameaçaram até faltar à partida decisiva por não receberem um bônus prometido pela Associação Ganesa de Futebol pela classificação para a Copa. O presidente de Gana, John Dramani Mahama, liberou um valor estimado em cerca de US$ 100 mil por atleta. Havia um problema adicional: os esportistas se recusavam a receber sua cota por depósito bancário. “A prática entre nós sempre foi pagar em dinheiro vivo e não por transferência. Alguns jogadores nem têm conta em bancos”, disse o técnico da seleção, James Appiah. Diante disso, as autoridades ganesas decidiram enviar um avião para o Brasil com a quantia a ser entregue aos atletas, que se concentravam num hotel do Distrito Federal. O jato pousou por volta das 20h na Base Aérea de Brasília e contou com uma escolta de cinco viaturas da Polícia Militar com quatro homens em cada carro. Do aeroporto até o Setor de Hotéis Norte foram 20 km, percorridos em menos de meia hora. “Foi uma situação de entendimento a partir de realidades que estão postas para a realização da Copa”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A Embaixada de Gana solicitou à Secretaria de Segurança Pública do DF que fosse realizado o comboio policial, e o pedido foi aceito.

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DANÇOU
Confusões fora do campo não são desculpa para eliminação,
disse Asamoah Gyan (centro)

Apesar de a Receita Federal não ter divulgado quanto chegou ao País, uma fonte do Ministério da Justiça confirmou à ISTOÉ que a delegação declarou os US$ 3 milhões. Não é ilegal entrar com a quantia no Brasil, mas ela poderia ser apreendida caso a Receita não fosse informada. Isso foi feito, e os esportistas agora terão que declarar com quantos reais sairão do Brasil. Com o dinheiro em mãos, os jogadores afastaram os temores de boicote, mas não debelaram a fama de encrenqueiros. Dois deles, Sulley Muntari e Kevin-Prince Boateng, foram suspensos por se envolverem em brigas. “As confusões refletem a desorganização do futebol na África. Do ponto de vista político, a situação de muitos países é complicada. E isso acaba sendo um retrato do continente”, diz Túlio Velho Barreto, especialista em sociologia do futebol.

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Colaborou Claudio Dantas Sequeira