Maquiagem no Rio

COSMÉTICA Algumas ruas de bairros como Copacabana receberão camadas de asfalto.
Os cariocas acham pouco

As vésperas dos Jogos Pan-Americanos 2007, que acontecem em julho, o Rio começa a passar por uma cirurgia plástica para receber os visitantes dos quatro cantos do mundo. A prefeitura anunciou uma reforma iniciada pela fresagem – remoção da camada de asfalto para ser reaproveitada no recapeamento – e sinalização de 23 ruas do município. A prioridade, claro, são as principais vias de acesso aos equipamentos usados no evento, como o percurso entre Copacabana, onde acontecerão algumas provas de natação, e a Marina da Glória, local dos embates na vela. A avenida Lauro Sodré, que fica no meio dos dois pontos, estará sem as ondulações e buracos comuns à rotina do carioca. Asfaltar a avenida não vai, porém, livrar os turistas de tropeçarem nos buracos nas calçadas e no canteiro central de pedras portuguesas. Ou pior: quem se aventurar a atravessar a rua vai se deparar com guard rails (gradil) destruídos, dignos de um cenário de total abandono.

Por mais que as belezas naturais encham os olhos dos visitantes, será uma decepção encontrar as mazelas com as quais os cariocas são obrigados a conviver no dia-a-dia. “O investimento na questão urbana da cidade está muito defasado. Nem o Pan seria suficiente para atualizar as demandas”, constata Antônio Barbosa, mestre em urbanismo e professor da Universidade Veiga de Almeida. Entre as prioridades, ele cita o abandono “há décadas” do Estádio de Remo na Lagoa Rodrigo de Freitas e o péssimo estado do entorno do Maracanã. Ambos estão entre as regiões que serão mais freqüentadas durante o Pan.

renato velasco

SERVIÇO INCOMPLETO Não há previsão para o reparo de cercas e de buracos como esses da avenida Lauro Sodré

Os cariocas estão descrentes em relação às futuras melhorias. “O Rio está muito maltratado. Acho que eles vão é fazer uma maquiagem”, desdenha a estudante de biologia Bruna Martrogiovanni, 21 anos, enquanto suspende a saia comprida para pular o buraco nas pedras portuguesas em Botafogo. Só com o recapeamento das vias, a prefeitura vai gastar R$ 11 milhões. “Era melhor investir esse dinheiro em algo mais importante”, avalia Bruna. Mas há quem aposte nos resultados: “Os equipamentos e as obras ficarão como um legado para a população carioca”, ufana-se o secretário municipal de Obras, Eider Dantas. Tomara que ele esteja com a razão.