Para quem disse durante a campanha que não iria meter o bedelho no emaranhado cenário da política internacional, o presidente americano, George W. Bush – eleito em novembro do ano passado –, até que está se saindo ousado. Bush afirmou na quarta-feira 25 que os Estados Unidos “farão o necessário para ajudar Taiwan a defender-se da China”. Esta foi a primeira vez desde 1979, quando Washington rompeu relações com Taipei, que um governante americano sai totalmente de cima do muro e de forma explícita declara-se a favor de Taiwan – a chamada “ilha rebelde” que se recusa a aceitar a soberania da China, distante apenas 185 quilômetros por mar.

Para estremecer ainda mais a já abalada relação sino-americana, Washington anunciou um pacote de armas sofisticadas prontas para serem vendidas a Taiwan. Os meios necessários para Taiwan se defender são quatro destróieres da classe Kidd, oito submarinos a diesel e 12 helicópteros anti-submarino P-3. Desde meados da década de 70, Washington vinha se recusando a fornecer submarinos para Taiwan, com a desculpa de que era um poderoso arsenal. Mesmo que o Parlamento taiwanês aprove a compra e ela realmente se concretize, o país está longe de se livrar das garras da China, caso haja um conflito. O arsenal bélico dos chineses é um dos maiores no mundo. Só de fabricação própria, os chineses têm 60 submarinos e mais quatro submarinos russos da classe Kilo. A China já tinha avisado que, se os americanos vendessem os destróieres equipados com o moderno sistema de radar Aegis, o tempo iria fechar de vez. Não apenas pela alta tecnologia da embarcação, que poderia neutralizar os balísticos mísseis chineses, mas também porque para realizar operações nesse submarino seria necessário que os americanos treinassem os oficiais taiwaneses. O que obviamente aproximaria a relação entre os dois países. E é justamente isso que os chineses mais temem: que os taiwaneses pró-independência ganhem aliados.

Como não poderia deixar de ser, Pequim mostrou-se extremamente irritada com a política de George W. Bush de acabar com a ambiguidade sobre Taiwan, considerando a declaração do presidente americano um “atentado à soberania chinesa”. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhang Qiyue, disse que “os Estados Unidos tomaram um caminho perigoso” e que “Taiwan é parte da China, não um protetorado de país estrangeiro algum”. Tentando se safar de uma polêmica ainda maior, Bush afirmou que os Estados Unidos reconhecem que Taiwan faz parte da China, existindo, então, apenas “uma só China”. Esta, por sua vez, também não pode ignorar o poderio econômico americano, do qual é dependente. O presidente chinês, Jiang Zemin, sabe que há um sentimento crescente anti-Tio Sam na China e que isso pode causar problemas para a futura liderança no país. O azedamento das relações começou com o bombardeamento da embaixada chinesa em Kosovo em 1999 e agravou-se no início do mês, quando um avião – espião americano se chocou com um caça chinês. Com o fim da ambiguidade, os Estados Unidos não abalam apenas as relações com os chineses, mas põem em alerta os vizinhos asiáticos. Taiwan está em um ponto estratégico para as rotas marinhas entre a Ásia e o Oriente Médio. O governo da ilha deu três meses para responder se aceita ou não a oferta de armas dos americanos. E, mesmo que aceitem, o caminho é longo porque algumas peças dos destróieres só os europeus possuem e eles teriam que estar de acordo com a nova diretriz do presidente americano.