O depoimento da ex-diretora do Prodasen, responsável pelo serviço de processamento de dados do Senado, Regina Célia Peres Borges, ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, na tarde da quinta-feira 19, foi dramático e devastador. A senadores perplexos, ela afirmou ter sido procurada pelo ex-líder do governo José Roberto Arruda, que lhe pediu, em nome do então presidente do Congresso, Antônio Carlos Magalhães, que violasse o painel de votação do Senado. Ela afirmou também ter enviado uma lista com a votação secreta para o senador Arruda. Declarou ainda ter recebido um telefonema de ACM, que agradeceu o serviço prestado.

O relato da ex-diretora confirmou de maneira insofismável a série de reportagens publicadas por ISTOÉ desde fevereiro. Naquela ocasião, nossos leitores ficaram sabendo, pelo trabalho dos repórteres Andrei Meireles e Mino Pedrosa, que o senador Antônio Carlos Magalhães foi ao Ministério Público e lá confessou, entre outras coisas, ter a lista da votação que determinou o fim do mandato do senador Luiz Estevão. A votação era secreta e o senador, o presidente do Congresso.

A reunião foi providencialmente gravada pelo procurador Luiz Francisco de Souza, e ISTOÉ publicou o conteúdo das fitas na última edição de fevereiro. Depois de desentendimentos entre os procuradores Guilherme Schelb, Eliana Torelly e o próprio Luiz Francisco, a procuradora – pasmem – queimou parte das fitas. Mas uma sobrou, de qualidade precária. Luiz Francisco entregou-a a ISTOÉ, que acionou o perito Ricardo Molina. O resultado foi publicado na edição seguinte desta revista. Era apenas uma fita. Desdenhada por uns – “… e todo o barulho era só fita”, chegou a publicar uma revista –, ignorada por outros, o seu conteúdo, confirmado e reconfirmado por testemunhas e peritos, derrubou dois ministros e detonou uma crise no Congresso, que atinge agora o seu auge e sinaliza, como desfecho, a cassação de seus personagens.

O episódio é exemplar de uma das principais funções da imprensa: fiscalizar o poder. E fazê-lo com equilíbrio, sem arrogância, tomando-se os devidos cuidados para fugir do denuncismo. Mas fiscalizar implacavelmente. Não fosse a fitinha do procurador, conseguida pelos repórteres de ISTOÉ, permaneceriam impunes as práticas do senador Antônio Carlos Magalhães, que se valeu de seu poder como presidente do Congresso para coagir a funcionária do Senado a praticar o delito.