Um lance de mestre que conseguirá recuperar a confiança internacional na economia argentina ou apenas um blefe para ganhar tempo até que surja uma solução de fato? É esta a pergunta que circula entre investidores, empresários e autoridades brasileiras e estrangeiras desde que o ministro Domingo Cavallo lançou, na semana passada, uma nova proposta para tentar tirar a economia argentina da crise profunda em que se encontra. Cavallo mandou ao Congresso argentino um projeto de lei que propõe alterar a política cambial do país, cujo fundamento central, a paridade do peso e do dólar na base de um para um, foi criado por ele ainda no início da década de 90, durante o primeiro mandato do presidente Menem. A nova proposta de Cavallo, caso seja aprovada, atrelará o peso ao dólar e também ao euro. O peso passaria a flutuar de acordo com a variação do valor das duas moedas no mercado internacional.

A medida, entretanto, entrará em vigor apenas quando – e se – o euro estiver valendo um dólar (hoje, a cotação anda próxima de 88 centavos de dólar). Os investidores ficaram confusos, o dólar bateu R$ 2,20 no mercado brasileiro, enquanto os juros dispararam na Argentina. Para tentar apagar o incêndio, Cavallo, com uma viagem marcada para a Inglaterra, decidiu de última hora fazer uma escala em São Paulo na quarta-feira 18. Em discurso no Memorial da América Latina, procurou mostrar otimismo. “O peso irá captar o melhor das duas moedas e, com isso, continuará sendo estável. A Argentina mudará sua política cambial sem surpresas, e faremos tudo à luz do dia, como estamos fazendo”, afirmou o ministro. Cavallo aproveitou a oportunidade para, mais uma vez, atacar o Mercosul: chamou o sistema de tarifas comuns vigente entre os países que formam o bloco de “palhaçada”. Além disso, reiterou sua intenção de baixar a zero a tarifa de importação para computadores, softwares e aparelhos de telecomunicação, que, para o ministro, deveriam ter o mesmo tratamento dos chamados bens de capital.

Com relação à mudança no câmbio, o resultado da proposta de Cavallo é incerto. O economista americano Allan Meltzer, consultor do Congresso dos Estados Unidos, por exemplo, afirmou, em entrevista ao jornal Valor, que se trata de uma proposta “idiota”. “Não podemos prever para onde vai a taxa de câmbio (do dólar e do euro). Poderá favorecê-los ou prejudicá-los”, disse o economista. A saída, diz ele, passaria necessariamente pela renegociação da dívida externa do país. Mais otimista, o banqueiro brasileiro Fernão Bracher, do BBA, presente à apresentação de Cavallo, acha que é o caso de dar crédito à idéia. “Como todo plano econômico, ele poderá obter sucesso”, afirmou.