Único jogador eleito duas vezes o melhor do mundo pela Fifa, uma homenagem que nem Pelé recebeu, Ronaldo Nazário de Lima, o Ronaldinho, está finalmente de volta aos gramados. Na segunda-feira 16, o craque bateu bola sozinho no centro de treinamento Appiano Gentile, da Internazionale de Milão. Depois, fez três gols – em jogadas de velocidade – num bate-bola de 35 minutos, vencido pelo seu time por 7 a 6. A primeira lesão havia afastado o jogador por cinco meses. No jogo da volta, bastaram seis minutos para que o joelho estourasse novamente. Mais um ano no estaleiro. Apesar de tudo, o craque está otimista. A diretoria da Inter espera o seu retorno aos jogos para agosto, mas ele acredita que poderá jogar num prazo de 30 dias. “Voltarei quando meu cérebro disser que estou bem. Sinto que isso ocorrerá em breve”, prevê. Aos 24 anos, Ronaldinho tem um dos maiores salários do futebol mundial – US$ 500 mil mensais, além de direitos de imagem – e cinco anos de contrato a cumprir. Nesta entrevista a ISTOÉ, ele fala sobre a organização no esporte, as CPIs do futebol e o seu futuro.

ISTOÉ – O que mais o preocupa em relação ao Brasil?
Ronaldinho – A corrupção. Comprovada a acusação, o corrupto deveria ir para a cadeia.

ISTOÉ – O jurista Valed Perry defende uma lei contra as fraudes no esporte. Que avaliação você faz das CPIs?
Ronaldinho – Essa lei ajudaria. Creio que as coisas, nas CPIs, estão no caminho errado. Quando fui lá, apareceram com camisas e papéis para autógrafos. Elas podem ajudar, mas não parecem bem conduzidas. Creio que os deputados estão confusos, levantando poeira. E levantar poeira, apenas, não basta.

ISTOÉ – A desorganização no futebol acabou com as parcerias no Brasil?
Ronaldinho – Vai depender muito. Com um futebol organizado, as empresas voltarão. Sem ordem, elas se afastam.

ISTOÉ – Por que o contrato da CBF com a Nike causa tantas suspeitas?
Ronaldinho – Não há motivo para polêmica. A Nike não precisa da Seleção para se manter em boa situação. Investe porque acha que ela também pode dar retorno. A empresa está no Brasil e, de repente, pode repensar tudo diante de tanta confusão.

ISTOÉ – O ex-técnico da Seleção Brasileira Vanderlei Luxemburgo admitiu haver pressão da CBF e da Nike para colocar você no time…
Ronaldinho – Nunca soube disso. Quero acreditar que fui convocado e escalado porque joguei bem. Nunca esqueci que o técnico tem autonomia.

ISTOÉ – Há um nivelamento por baixo no futebol mundial?
Ronaldinho – Não creio nisso. O Brasil continua com os melhores jogadores.
 

ISTOÉ – E as recentes derrotas para Chile, Paraguai e Equador?
Ronaldinho – Não estamos num bom momento, mas a Seleção vai se classificar mais uma vez.

ISTOÉ – Você gostou da experiência na Copa de 1998?
Ronaldinho – Foi ótima. O episódio da final (Ele sofreu uma convulsão antes do jogo com a França) poderia acontecer com qualquer um.

ISTOÉ – Há muito ciúme entre os jogadores?
Ronaldinho – Em qualquer área há concorrência e ciumeira.

ISTOÉ – Foi melhor para Luxemburgo deixar a Seleção?
Ronaldinho – Ele é quem tem de saber o que é bom para ele. Sei o que é bom para mim.

ISTOÉ – Na Seleção há casos de vetos de jogadores, como Roberto Carlos pelo Romário?
Ronaldinho – Isso não funciona. O técnico tem autonomia para convocar quem quiser.

ISTOÉ – Na CPI da Câmara, você desmentiu o Edmundo sobre as circunstâncias em que você foi escalado na final da Copa de 1998. Isso criou problemas para você?
Ronaldinho – Relatei o que aconteceu. Não posso ficar preocupado com outras versões. Agora estou pensando na Copa de 2002.

ISTOÉ – As contusões chegaram a desanimá-lo?
Ronaldinho – Antes da primeira lesão, ocorrida em novembro de 1999, já sentia dores. Depois tive outra, mais grave, no dia 12 de abril de 2000. No primeiro mês após a segunda contusão, fiquei desanimado, deprimido, mas nunca pensei em parar.

ISTOÉ – Você pensa em jogar mais recuado quando voltar?
Ronaldinho – Vou jogar no ataque. Se estiver recuperado, não haverá razão para atuar em outra posição.

ISTOÉ – Sua intenção é continuar na Itália?
Ronaldinho – Estou feliz e não há razão para mudanças. Quero retornar à Seleção e disputar a Copa de 2002.

ISTOÉ – Você espera jogar por muitos anos?
Ronaldinho – Sim, claro. Acho que acabou o preconceito contra o jogador de 30 anos.

ISTOÉ – Você e sua mulher, Milene, superaram o golpe da perda recente do segundo filho?
Ronaldinho – Foi muito desagradável, mas vamos superar tudo.

ISTOÉ – Você apóia a luta para o Brasil abrigar a Copa de 2010?
Ronaldinho – Sem dúvida.

ISTOÉ – Você pretende retornar ao futebol brasileiro?
Ronaldinho – Sim, depois de meu período na Inter de Milão. Minha intenção é jogar no Flamengo.

ISTOÉ – Quem é o seu ídolo?
Ronaldinho – O Zico. Ele sempre foi um exemplo, como homem e atleta.

ISTOÉ – E seu lado de mecenas?
Ronaldinho – Financiamos uma peça, um filme e um CD de poemas de Vinícius de Moraes. Há outros planos.

ISTOÉ – Algum deles envolve produção em tevê?
Ronaldinho – Só se o Roberto Marinho me chamar para sócio. Aí, quem sabe?