Desde que a atriz francesa Brigitte Bardot conheceu a então selvagem Armação de Búzios, em 1960, o balneário fluminense recebe levas cada vez maiores de turistas. A cidade cresceu com charme e virou point de fama internacional. A mais recente invasão é por mar. São europeus, argentinos e brasileiros a bordo de transatlânticos que incluíram Búzios em suas escalas. Só com a chegada dos 63.300 turistas que desembarcaram na última temporada, de dezembro a março, R$ 12 milhões irrigaram as caixas registradoras da cidade, o equivalente a um terço da arrecadação total do município em um ano. O Porto Veleiro, na praia da Armação, fundamental para a atração dos turistas, foi construído pelo empresário Carlos Eduardo Bueno Netto, o Cadu, carioca de 53 anos, que investiu US$ 90 mil no projeto.

Cadu adquiriu um tosco posto marítimo da Shell, no final da praia da Armação, em 1994. Até então, o desembarque de passageiros na costa brasileira era monopólio do Lloyd Brasileiro. O retorno foi imediato. A primeira temporada foi a do verão de 1996/1997 e trouxe a Búzios oito mil visitantes, em oito escalas. No ano seguinte, o número de escalas cresceu para 26 e, em 2000/2001, chegou a 50. A iniciativa trouxe resultados ainda melhores este ano, quando um pool de 11 empresas começou a receber os que desembarcam com uma organizada oferta de serviços. “Esta estratégia mais que dobrou o gasto per capita dos turistas em relação a 2000”, festeja Cadu.

Para atender à demanda, quem chega encontra à disposição serviços desde passeios de catamarã com fundo de vidro até compra de ingressos para as boates. O publicitário paulista Rudy Volk, 62 anos, opera há um ano e meio o catamarã Guaiamum, de 33 pés. Os navios multiplicaram sua selecionada freguesia, até então proveniente dos hotéis. “Faço um passeio diferenciado, no máximo para 18 passageiros”, orgulha-se. Já Jonas dos Reis, 29 anos, nascido em Cabo Frio e criado em Búzios, está rindo à toa. Trabalha há dez anos com aluguel de lanchas e dobrou o movimento da sua Itaúna Mar, de 26 pés: “Consegui equilibrar minha vida.”

Ruído – Os resultados são tão positivos que a prefeitura já desenvolve seu projeto próprio de marina, associada a um cais para grandes embarcações. “Todos lucram muito com os navios”, aplaude o vice-prefeito, Silvano Domingos do Nascimento (PDT). Só quem não faz coro são ambientalistas e veranistas que vão à cidade em busca de paz. “Um dos grandes problemas de Búzios é o ruído. Os navios fazem muito barulho”, reclama o carioca Gabriel Gialluizi, 58 anos, presidente do movimento Viva Búzios, saudoso do paraíso onde foi morar há 13 anos. Ele fica ainda mais preocupado com o projeto da marina. “A cidade não tem plano diretor. Tudo que se fizer aqui pode ser uma catástrofe”, alerta.

Já José Wilson, diretor da Associação Comercial de Búzios, não dá muito peso à preservação e só tem motivos para comemorar. Um dia de navio de grande porte atracado próximo à Orla Bardot corresponde ao fluxo turístico de um dia de feriado. “As lojas multiplicam as vendas por cinco”, contabiliza. Embora não haja muita procura de restaurantes, casas como o Chez Michou, creperia que espalhou filiais no Rio, também sentem o impacto dos passageiros em fuga dos preços apimentados das bebidas alcoólicas a bordo. “Eles adoram caipirinha”, diz o gerente Nelson Aguiar.

Os passageiros são transportados para a cidade em barcos de apoio durante 24 horas. O casal Lúcia Ferreira e o industrial Moacyr Sebastião Ferreira Júnior, ambos de 36 anos, de Franca, já programam voltar com os três filhos. Os dois passearam de escuna e estavam encantados com a natureza. “A paisagem é muito bonita, gostei de tudo”, resumiu Moacyr. Até o barman do navio, o turco Umut Tung, 24 anos, estava deslumbrado: “Andei durante duas horas pelo litoral. O mar é lindo”, exclama o turista diante de cardumes de todos os tipos e tamanhos nadando nas águas cristalinas junto ao cais.

Eduardo Nascimento, diretor da Sun and Sea Representações, empresa responsável pelo Splendour of the Seas no Brasil, considera Búzios uma das escalas mais importantes para a Royal Caribean, dona do transatlântico. A procura pelo litoral brasileiro só tende a crescer porque as praias do Caribe, até então principal destino dos navios, estão saturadas, avalia Nascimento. A portuguesa (do Porto) Hermenilda de Barros, 65 anos, que o diga. Ela faz planos para
voltar à cidade que conheceu há 17 anos, a bordo de um transatlântico: “Era um lugar inóspito, estou admirada. De navio
será melhor ainda!”