Até hoje não se inventou remédio eficaz para curar cotovelos doloridos. Quando muito, existem atenuantes que conferem elegância ao inevitável sofrimento. Ouvir Nana Caymmi nestes momentos é tão indispensável quanto um bom uísque. Ainda mais num disco específico de boleros, como este que ela está lançando com os melhores exemplos do gênero, cantados em espanhol, de um jeito que só as intérpretes de vozes dilacerantes sabem fazer. Mais do que canções, são 14 flechadas no coração. Nana, que na arte de embalar desencontros amorosos talvez seja comparada apenas a Dolores Duran e Maysa, vem embalada em arranjos que deram mais cor e sofisticação ao repertório.
Assinados por Cristóvão Bastos e Dori Caymmi, eles trazem cordas, sopros sutis e uma percussão discreta e executada por Dom Chacal, pontuando, por exemplo, versos de Solamente una vez (Agustín Lara), Como yo te amé (Armando Manzanero) ou La violetera (Jose Padilla Sanchez/E. Montesinos Lopes). O clima nostálgico percorre todo o disco, e quem é mais jovem talvez se espante com o tom derramado e escandalosamente exagerado das músicas. Mas boleros são assim mesmo, trágicos, escancarados e fulminantes. Como toda dor-de-cotovelo.