Jacques Costeau costumava dizer que havia dez paraísos nos cinco oceanos, um deles seria a ilha de Sipadan, na Malásia, e as ilhas filipinas que a cercam. No Domingo de Páscoa, essa ilha malaia paradisíaca virou uma antecâmera do inferno. Com rifles AK-47 e granadas, seis homens do grupo extremista filipino islâmico Abu Sayyaf invadiram o resort e fizeram como reféns 21 pessoas, entre elas dez estrangeiros – três alemães, dois franceses, dois sul-africanos, dois finlandeses e um libanês. Gritando frases em inglês e malaio, os sequestradores renderam os turistas e os funcionários malaios e filipinos e os levaram a um esconderijo a uma hora dali na ilha de Jolo, nas Filipinas. Mas antes de sair escreveram numa parede do hotel em letras garrafais: Abu Sayyaf, em árabe significa Pais da Espada.

A resposta de Manila às espadas da guerrilha foi cercar o acampamento na ilha de Jolo (a mais de mil quilômetros de Manila) para tentar libertar os reféns. E o pior acabou acontecendo: num enfrentamento de cinco horas na terça-feira 2 entre os rebeldes e as forças filipinas, dois reféns estrangeiros morreram. O comandante Robot, líder dos sequestradores, afirmou que um refém morreu com um tiro e o outro de ataque do coração. O governo não confirmou a informação. O presidente da França, Jacques Chirac, chegou a escrever uma carta ao presidente filipino, Joseph Estrada, para que não colocasse em risco a vida dos sequestrados.

O Abu Sayyaf é um dos grupos extremistas que reivindicam um Estado islâmico na ilha de Basilan, em Mindanao. O líder do grupo, o líbio Abdujarak Abubakar Janjalini, cresceu nessa ilha e fundou a organização em 1991. A breve história da organização terrorista é manchada pelo sangue de sequestros de padres e freiras nesta última década. A ilha sulista de Mindanao tem 19 milhões de habitantes, dos quais seis milhões são muçulmanos.

Os extremistas islâmicos das Filipinas não poupam nem crianças. No dia 20 de março outra facção do Abu Sayyaf raptou, próximo à ilha de Basilan, 27 pessoas, entre elas alunos de duas escolas primárias e vários professores. O secretário da Defesa, Orlando Mercado, afirmou que o governo não negociaria com os sequestradores. O presidente Estrada disse que se recusaria a pagar qualquer resgate exigido pelos rebeldes, quantia que variou entre US$ 730 mil a US$ 2,5 milhões. Os terroristas enviaram uma mensagem dizendo que executariam dois reféns para cada resposta negativa de Manila. A reação do governo filipino foi despachar helicópteros numa caçada aos terroristas que durou quase uma semana. Os militares finalmente conseguiram encontrar o acampamento no domingo 30, mas só dois dias depois foram localizar os reféns. Quinze foram recapturados e quatro corpos foram encontrados. Os dez que restaram foram levados pelo Abu Sayyaf à ilha de Jolo.

Para agravar ainda mais a situação das Filipinas, outro grupo terrorista do país voltou à ação. Depois de quatro anos de uma trégua acertada entre o governo e a Frente Moro de Libertação Nacional, dissidentes desta organização agrupados na Frente Moro Islâmica de Libertação (FMIL) atacaram estradas e vilarejos no Sul do país, prendendo mais de 70 pessoas. Os ataques com granadas em Zamboanga e Cotabato mataram pelo menos quatro e feriram mais de 30. O FMIL também quer a independência de Mindanao.