" O Sertão precisa aprender a valorizar o que tem de bom e parar de menosprezar suas características naturais.” Esta frase é de Manoel Dantas Filho, dono da Fazenda Carnaúba, localizada em Taperoá, Sertão da Paraíba. Ela é considerada fazenda modelo pela postura adotada em relação ao clima semi-árido do interior nordestino. Dantas aprendeu que valorizar aquilo que a natureza local oferece é a melhor saída para entender e tirar proveito da seca.
Foi a partir desse pensamento que ele teve a idéia de produzir queijo de leite de cabra, desprezado por muitos sertanejos, assim como a própria carne de cabra e de bode. Esse queijo é um produto sofisticado em países como a França. A fazenda começou a prepará-lo e a comercializá-lo, quando uma feliz brincadeira rendeu outro aperfeiçoamento. Um amigo de Dantas, assim que retornou de suas férias em Paris, resolveu presenteá-lo com ervas provençais, normalmente utilizadas para temperar queijos. A reação do fazendeiro foi surpreendente: “Para que utilizar ervas francesas se aqui eu tenho as minhas próprias?”, perguntou ao amigo. Logo, ele desafiou Dantas a desenvolver um queijo com ervas sertanejas. Desafio prontamente aceito e que deu início à produção de queijos de leite de cabra com alfazema-de-periquito, marmeleiro e cumaru. A iguaria já é comercializada no Nordeste e, em breve, chegará às prateleiras do Sul e Sudeste.
Alguns produtos do Nordeste, como as frutas e a comida, conquistaram o público do Sudeste, mas na grande maioria são típicos da costa. No entanto, os produtos naturais do Sertão são muitas vezes desvalorizados e associados ao subdesenvolvimento. Um bom exemplo é a palma, um tipo de cacto bastante comum em todo o interior nordestino. Em muitas regiões, como no México e na Califórnia, a palma é apreciada e é consumida como uma verdura qualquer. Em outros lugares ela é utilizada apenas para alimentar o gado. Somente em caso de extrema necessidade é usada na alimentação humana. O mais curioso é que a fruta da palma, que no Sertão é oferecida somente aos porcos, pode ser encontrada nos supermercados sofisticados de São Paulo com o nome de figo-da-índia, produto importado que custa R$ 17 o quilo.
Dantas conta que muitas das plantas utilizadas para alimentar o gado hoje estão sendo importadas da Austrália ou da Califórnia como se fossem novidades e no entanto são originárias do Brasil, mas esquecidas ou simplesmente desvalorizadas pelos fazendeiros daqui. “O governo precisa compreender que não adianta lutar contra a seca. É preciso educar o povo e fazê-lo aprender a conviver com ela”, conclui o fazendeiro, dizendo que essa é a profecia do óbvio. Pena que nem sempre se enxerga o óbvio tão fácil.