Novas esperanças estão surgindo para quem sente vertigens ou sofre com zumbidos e pressão no ouvido. Em 85% dos casos, esses sintomas estão associados à labirintite ou labirintopatia. Trata-se de uma doença caracterizada por alterações no labirinto, um dos órgãos integrantes do sistema que regula o equilíbrio e a audição. Existem mais de 300 enfermidades que podem afetar o funcionamento do labirinto, desde hipertensão até alergias. Mas uma técnica trazida da Suécia há seis meses está aumentando as chances de cura.

O método está em uso no Ambulatório de Otoneurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele consiste em criar um atalho por dentro do ouvido para medicar o labirinto. Numa cirurgia com anestesia local, o médico abre uma fresta no tímpano (membrana que separa o ouvido externo do médio) e introduz um cateter ou tubo até atingir o órgão. Depois que o canal está aberto, o próprio paciente pode se medicar. Antes, era impossível aplicar remédios diretamente no labirinto, protegido por membranas que dificultam o acesso à área. Por isso, era preciso dar aos pacientes doses elevadas de medicações para que parte das substâncias – carregadas pela circulação sanguínea – chegasse ao destino. “Agora, obtemos efeitos mais fortes usando doses menores”, explica Mário Munhoz, professor da universidade.

A técnica é usada para acabar com as inflamações que deflagram vários tipos de labirintite. Os médicos usam o mesmo atalho para combater também a doença de Menière, causa muito frequente do problema em pessoas com mais de 40 anos. Neste caso, o motivo da sensação de pressão no ouvido e da tontura é o aumento de um líquido existente no labirinto, a endolinfa, que, em quantidade excessiva, dilata os canais por onde circula. Nesse tratamento, usa-se um aparelho que emite ondas. Ao atingirem a parede dilatada dos canais, elas pressionam essas vias, expulsando o excesso de líquido. Assim, os canais voltam ao tamanho normal. Na Unifesp, há dois aparelhos desse tipo. “É um recurso para eliminar sintomas de pacientes que não tiveram sucesso com outras terapias”, explica a otorrinolaringologista Letícia Soares, da Unifesp. A costureira Ailma dos Santos, de São Paulo, submeteu-se ao método. Na semana passada, teve a recompensa. “Fiz aplicações durante um mês. Estou livre das vertigens que me atormentaram durante um ano. Não tomo mais remédios”, diz.

Ninguém deve conviver com as tonturas. “O certo é procurar um especialista logo que elas surgirem”, recomenda Munhoz. A orientação faz sentido. Muita gente passa a vida tomando remédios por conta própria contra os sintomas da doença, como náuseas, vômitos e pressão no ouvido. “Nem todo mundo sabe que eles podem ter controle ou desaparecer. Depende do diagnóstico e tratamento corretos”, alerta o médico.