Os sacoleiros do ensino, que viajam de vários Estados para Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, em busca de diplomas sem a necessidade de assistir às aulas, contam com a retaguarda de aliados que se utilizam de um nome acima de qualquer suspeita: o do deputado Ulysses Guimarães. Conhecido como “o senhor diretas” (por iniciar campanha pelas eleições livres no Brasil), Ulysses foi um dos maiores líderes políticos do País e morreu tragicamente em um acidente de helicóptero, em 1992. A trajetória do fundador do antigo MDB (e depois do PMDB) seguiu uma rota oposta à de organizações como a Fundação Ulysses Guimarães e o Centro de Ensino Ulysses Guimarães, ambas sediadas em Jacarepaguá, no Rio, apontadas como responsáveis pela montagem dos cursos de complementação pedagógica e de licenciatura na Universidade Iguaçu (Unig). Esses cursos fornecem diplomas mesmo sem o cumprimento da carga horária.

Alunos de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul organizam caravanas a Nova Iguaçu uma vez por mês para, supostamente, assistir às aulas de licenciatura em biologia, matemática, física e química ou de complementação pedagógica (para se tornar diretor de escola). Na verdade, passam a maior parte do horário letivo em filas para o pagamento das mensalidades ou a entrega de trabalhos escolares feitos por terceiros, como comprovou reportagem de ISTOÉ na edição de 18 de abril. “A Fundação Ulysses Guimarães não tem nada a ver com isso. Somos um centro de apoio de estudos e pesquisas do PMDB e promovemos palestras e debates sobre temas políticos”, garante Vera Bandeira de Melo Andrade, secretária da entidade em São Paulo, que funciona na sede do diretório regional peemedebista. O presidente da fundação, Evandro Mesquita, não respondeu o telefonema da reportagem.

No Rio, a Fundação e o Centro de Ensino Ulysses Guimarães – que têm escritório num prédio na estrada de Jacarepaguá – oferecem, através de folhetos, CD-ROM e site na internet, cursos de pós-graduação (em psicopedagogia e supervisão educacional, entre outros) e de habilitação pedagógica e complementação de licenciaturas. O valor das matrículas e mensalidades gira em torno de R$ 250. Esses cursos são organizados em parceria com a Unig e outras faculdades, segundo Vitória Magalhães, diretora da Fundação Ulysses Guimarães, no Rio. Um ex-integrante do esquema – que pediu para não ser identificado – revelou a ISTOÉ que, somente na Unig, os cursos rendem mensalmente R$ 3 milhões, sem contar a arrecadação de agenciadores (que recebem pelos fretes de ônibus e ficam com uma das 13 parcelas do curso).
 

A maior parte do dinheiro arrecadado, segundo o informante, iria para a Fundação e o Centro de Ensino Ulysses Guimarães. A universidade ficaria com cerca de 20% a 30%. As escolas fornecem o espaço físico, os professores contratados por um único dia (para quem quiser entrar na sala de aula) e o diploma. Procurada na sede do Rio, Ethienne Du Viggiano, do departamento financeiro do Centro Ulysses Guimarães, não quis dar declarações. Ela foi fotografada no campus da Unig, quando repreendia alunos que reclamavam da demora nas filas de pagamento e de entrega de trabalhos. A diretora da fundação, Vitória Magalhães, disse que o Centro Ulysses Guimarães não dá os cursos. “Apenas administramos a parte burocrática. Temos um pessoal qualificado para cuidar disso”, informou. Procurados para falar sobre a relação com a Fundação Ulysses Guimarães do PMDB, nenhum dos diretores quis dar declarações. Um funcionário não identificado disse que as duas entidades seriam “homônimas”.

Na região de Campinas (SP), os agenciadores da “romaria do diploma” têm pedido aos “alunos” para não falar sobre o caso até “tudo voltar ao normal”. Um curso programado para Nova Iguaçu no dia 28 de abril pode vir a ser realizado em outra universidade. O MEC já adotou medidas em relação à Unig. Informou também que as instituições Centro de Ensino Ulysses Guimarães e a Faifitechs (Faculdades Integradas de Filosofia, Teologia, Ciências Humanas e Sociais) – também denunciada por esta revista e que recebe matrículas numa casa na periferia de São Paulo –, não são credenciadas e não podem oferecer cursos de nível superior.

Colaboraram: Greice Rodrigues e Francisco Alves Filho (RJ)

MEC pede ajuda à PF

Eduardo Hollanda

Polícia Federal vai investigar as denúncias publicadas na edição anterior de ISTOÉ sobre esquemas de facilitação de diplomas na Universidade Iguaçu (Unig) e na Faifitechs. O pedido à PF foi feito pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza. “As informações são graves e detalhadas, o que pede um tratamento rigoroso”, afirmou o ministro. Segundo ele, a Faifitechs, que não possui nenhum tipo de registro no MEC, é “simplesmente um caso de polícia”. Com relação à Unig, do ex-deputado cassado do Rio Fábio Raunheitti, o ministro determinou que a instituição passe por um pente-fino através de duas comissões especiais. A primeira, que contará com um procurador da República, terá dez dias para investigar as denúncias. Com base nesse relatório, o MEC tomará as medidas punitivas. O ministro decidiu ainda que a Unig passará pelo processo de recredenciamento, que suspende imediatamente sua autonomia. É a primeira vez que o MEC determina o recredenciamento de uma universidade. A comissão terá 120 para analisar a estrutura da Unig e verificar se ela atende às exigências para funcionar. Se não for aprovada, será descredenciada.