Poucas cineastas foram tão fundo ao retratar a complexidade da sexualidade feminina como a neozelandesa Jane Campion. Sua fita mais incômoda sobre o assunto, porém, é justamente a que marca sua estréia nas telas, Sweetie (Sweetie, Austrália, 1989) – em cartaz em São Paulo –, que só agora chega ao Brasil. A exemplo de seus trabalhos mais conhecidos, os personagens são jogados numa espiral de insanidade, humilhação e auto-destruição, com a diferença de que desta vez não há saída. As irmãs Sweetie (Geneviève Lemon) e Kay (Karen Colston) estão no foco central de uma doentia desagregação familiar. Para avaliar tanta esquisitice seria necessário uma junta psiquiátrica. Sweetie é uma gordota transgressora, de enorme apetite sexual, enquanto Kay é uma garota aparentemente reprimida, que rouba o namorado de uma amiga seguindo os conselhos de uma vidente, para depois rejeitá-lo na cama. O conflito das duas personalidades distintas resulta em situações tão absurdas, de humor negro, que o desconforto acaba por abafar totalmente o riso.