Descendente de poloneses e negros, e curitibano até a medula, o poeta, escritor, músico, tradutor, publicitário e professor Paulo Leminski Filho era um verdadeiro dínamo. Do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, onde estudou – e de onde foi expulso por amar a cultura clássica e Brigitte Bardot com a mesma intensidade –, ao reconhecimento por parte da nata da inteligentzia brasileira, Leminski acabou atraindo para si os adjetivos de poeta tresloucado, rigoroso e anárquico. Quando morreu em 1989, aos 44 anos, devastado pela bebida, ele estava prenhe de projetos. E é para jogar uma luz sobre o homem Leminski que o jornalista e amigo Toninho Vaz escreveu a biografia Paulo Leminski – o bandido que sabia latim (Record, 364 págs., R$ 35). Na sua empreitada, Vaz se valeu de um texto substantivo, livre de julgamentos morais, no qual o mito aparece despido. Casado com a também poeta Alice Ruiz e pai de Miguel Ângelo, que morreu aos 10 anos, Áurea e Estrela, Leminski mastigou vários traumas. Entre eles a perda do filho, do irmão e do pai, que no livro são alinhados na mesma compulsão com que o poeta sorveu a vida e conquistou a admiração – e às vezes a parceria – de nomes como Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Jorge Mautner, os poetas concretistas de São Paulo, os roqueiros de Curitiba, Waly Salomão e os visionários baianos. Uma vida que daria um poema, como de fato ocorreu.