Dia 1º de Maio comemora-se o 20º aniversário da histórica greve do ABC, em São Paulo. Em plena ditadura militar, os metalúrgicos comandados por Luiz Inácio da Silva, o presidente do sindicato, cruzaram os braços por 41 dias para conseguir garantia de emprego e redução da jornada de trabalho, além de outras reivindicações. Durante esse tempo todo, os operários se reuniam em assembléias na Vila Euclides, um estádio de futebol em São Bernardo do Campo, desafiando a violenta repressão, corriqueira naqueles tempos. Entre a repressão e os metalúrgicos, colocava-se uma imprensa atenta e alguns bravos parlamentares da época, como Teotônio Vilella, Ulysses Guimarães, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, entre outros que tentavam negociar com a polícia em meio às escaramuças movidas a bombas de gás lacrimogêneo, prisões e muita cacetada. Lula acabou sendo preso e foi substituído nas assembléias por outros líderes, que passaram a usar todo tipo de estratagema para poder chegar ao estádio e tocar as assembléias antes que eles também acabassem nas celas do Dops em São Paulo. Para a reportagem da pág. 44, a jornalista Florência Costa mergulhou em arquivos e foi atrás dos personagens daquela saga que mudou os rumos do Brasil.

Mudou? Bem, alguns fatos recentes mostram que algumas coisas continuam iguais. Por exemplo: o mesmo sindicato de São Bernardo, hoje comandado por Luís Marinho, em busca de soluções para a manutenção e ampliação do mercado de trabalho, defende a renovação da frota de veículos do País. A aceitação da tese é quase unânime e defendida com ênfase por um dos bravos parlamentares acima citados, o hoje governador Mário Covas. Na quarta-feira, Luís Marinho e seu companheiro Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, lideraram uma carreata que deveria acabar pacificamente nas portas do Palácio dos Bandeirantes. Deveria, mas na realidade eles foram recebidos pela polícia do governador com cassetetes parecidos com aqueles de 20 anos atrás. Luiza Villaméa estava lá e sua reportagem pode ser lida na pág. 90.

O outro exemplo, presenciado pela repórter Ines Garçoni, foi mostrado ao mundo todo pelas tevês e agências de notícias como parte das comemorações dos 500 anos do Descobrimento. E foram cenas nada edificantes. O que a tropa de choque baiana fez em Porto Seguro daria inveja àquela de 20 anos atrás e deixaria envergonhado outro daqueles bravos parlamentares acima citados, que por sinal estava perto do local, só que desta vez como presidente da República.