Narciso não poderia estar mais satisfeito. Do creme feito na farmácia de manipulação da esquina ao cosmético produzido com requintes de alta tecnologia, nunca a vaidade esteve tão bem servida. A indústria da beleza se aprimora cada vez mais e está conseguindo colocar à disposição uma infinidade de alternativas para reverter os efeitos implacáveis do tempo e nos deixar mais belos. As opções incluem desde novas gerações de ácidos capazes de promover o rejuvenescimento sem que seja preciso se esconder do sol até suplementos vitamínicos. Essas, no entanto, não são as únicas armas na luta por rostos mais bonitos. Fórmulas enriquecidas com componentes naturais como óleos extraídos do milho e de sementes de uva ganham espaço. São os chamados cosméticos da terra. E a indústria promete mais. Marcas internacionais colocaram seus pesquisadores atrás da biologia molecular para conseguir resolver nossos dilemas de Narciso diretamente nas células da pele.

As iniciativas são compreensíveis. A primeira razão talvez seja o fato de que o brasileiro assumiu de vez sua vaidade. Sinal disso é o aumento da procura por dermatologistas. Os consultórios desses profissionais vivem cheios de pessoas em busca do mais novo elixir da juventude. Por isso, para o dermatologista especializado em estética Otávio Macedo, a tendência é criar tratamentos de recuperação veloz. “Ninguém mais tem tempo de ficar em casa esperando dez dias para a pele se recuperar”, garante. O médico Cássio Martins Vilhaça Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, concorda. “Os pacientes pedem resultados rápidos. O tratamento estético está cada dia mais valorizado”, afirma. E os homens não estão de fora. Na clínica Anna Pegova, em São Paulo, por exemplo, 30% da clientela é de representantes do sexo masculino.

Lucros – Melhorar a aparência, é verdade, rende bons dividendos por aqui. O Brasil é o oitavo mercado do segmento no mundo. Em 1999, o setor movimentou US$ 3,6 bilhões. E pode chegar a US$ 4 bilhões neste ano. Uma das maneiras de assegurar esse incremento é justamente a entrada no negócio dos suplementos vitamínicos. A Natura inaugurou a estratégia no mês passado, com o lançamento da linha Bioequilíbrio. São sete produtos que oferecem ferro, zinco, cálcio, fibras, vitamina C e complexo B. “No mercado, só se pensava em aplicações de uso tópico. Agora, produtos orais estão sendo lançados”, afirma Elisabete Vicentini, gerente de tecnologia de conceitos avançados da empresa. A idéia de usar suplementos como coadjuvantes no tratamento estético é simples. Afinal, a pele não é somente o que se vê. Suas células também precisam ser bem nutridas para funcionar melhor. Já se sabe, por exemplo, da importância das vitaminas C e E, que atuam como antioxidantes, combatendo o envelhecimento precoce, e favorecem a renovação celular. Até agora, no entanto, esses ingredientes vinham somente sendo adicionados aos cosméticos, e não comercializados como suplementos com finalidade estética.


O caminho parece tão promissor que, assim como a Natura, a Avon e O Boticário devem apresentar ao mercado em breve suas propostas vitamínicas. Quem também coloca suas fichas na associação entre beleza e vitaminas é o laboratório Bionatus, que comercializa desde o início do ano uma linha com esse fim. Entre os produtos, estão compostos para manutenção do bronzeado (contém betacaroteno) e combate à flacidez (suplemento de colágeno, fibras responsáveis pela elasticidade e firmeza da pele). “Fizemos uma pesquisa e constatamos que 86% dos estabelecimentos de São Paulo desejavam produtos novos na área de estética. Existe demanda”, conta Alfeno Dutra, farmacêutico responsável pela empresa.

Haja demanda. Trabalhar com complementos nutricionais é uma tendência mundial. Nos Estados Unidos, a receita do mercado de suplementos gira em torno de US$ 17 bilhões por ano. No Brasil, estima-se que a indústria movimente anualmente R$ 1,5 bilhão. A taxa de crescimento desse filão por aqui, entretanto, é de 20%, maior que a média americana (12%). Os responsáveis por esse aumento não são apenas as empresas nacionais. Uma das favoritas da atriz Isabelle Adjani, a marca francesa Caudalíe entrou no Brasil há cerca de três anos apostando no segmento.

Uvas – Um dos primeiros produtos trazidos foram seus suplementos feitos à base de polifenóis, substâncias com alto poder rejuvenescedor extraídas do mesmo tipo de uva usado na fabricação do famoso vinho Chateau Lafitte. “As cápsulas são antiidade e estimulam a hidratação interna”, explica Carla Matos, farmacêutica responsável da Connexion, representante da marca no Brasil. Aos poucos, a empresa está introduzindo aqui toda sua linha de cosméticos, criada sem ingredientes de origem animal e sem colorantes. Entre as novidades que chegam ao mercado estão preventivos de rugas, hidratantes e esfoliantes. A Caudalíe investiu tanto nas uvas que criou uma terapia feita com base nas frutas, a vinoterapia. Na região de Bordeaux, montou um centro de tratamento, que inclui banhos com vinho tinto, para combater a ação de radicais livres e de outros fatores de envelhecimento. Centros de tratamento semelhantes, bancados pela indústria cosmética, também ganham adeptos no Brasil. Neste mês, a Payout inaugura sua maison na capital paulista.

O prestígio da cosmética que envolve conceitos mais naturais vai bem. Todas as grandes marcas enveredam nessa trilha. “Estamos pensando na natureza e na alta tecnologia ao mesmo tempo”, diz Wagner Lungov, diretor de marketing da Nívea. Um dos carros-chefe de vendas da empresa é o creme anti-rugas Q 10, da linha Visage, que acaba de ganhar uma versão noturna. O produto une a co-enzima Q10 (presente na pele humana), vitamina A (agente regenerador da epiderme) e óleo de macadâmia, que nutre intensivamente a pele, entre outros componentes. Outro lançamento que inclui componentes naturais é o Sisleÿa, fabricado pela Sisley, empresa francesa. Ele promete rejuvenescer a pele, atenuando rugas e marcas de expressão com a ajuda de ácido ursólico (retirado da semente da maçã) e uma combinação de vitaminas E, F e ácido retinol (vitamina A pura), além de extrato de shitake, que aumenta as defesas da epiderme. O produto custa nada menos do que R$ 611.

Olheiras – As indústrias não estão investindo somente no combate ao envelhecimento e procurando o fim das rugas – embora seja consenso que elas são as campeãs de queixas. Recentemente, a família Visage, da Nívea, por exemplo, ganhou mais um item: um adesivo (patch) com hidratantes para amenizar olheiras. A fita tem glicerina, que refresca e relaxa a área em torno dos olhos. A Nívea garante que é mais eficiente que cremes. A explicação: os ativos ficam mais concentrados na pele, já que o patch fica bem aderido ao rosto.

 

CARETA DE RESULTADOS

No início do ano passado, a professora de ginástica Lígia Azevedo, 58 anos, procurou um cirurgião plástico para uma geral na face. Ao mesmo tempo, começou a praticar ginástica facial. Oito meses depois, ela concluiu que os exercícios com a musculatura do rosto lhe garantirão uma aparência jovem até os 70. Empolgada com seus próprios resultados, Lígia acabou de lançar um vídeo, no valor de R$ 87, no qual ensina 16 exercícios diferentes da técnica. “É um método concentrado para todo o rosto”, esclarece. A empresária afirma já ter vendido 850 cópias em menos de um mês.

No início, a mulher vai gastar apenas dez minutos diários. Quando chegar ao final da série, estará ocupando 20 minutos de seu dia, repetindo três vezes cada um dos 16 exercícios. Segundo a professora, nos primeiros três meses a série deve ser feita diariamente. Depois, bastam três vezes semanais. “É como musculação. Quanto mais a pessoa fizer, melhores os resultados”, ensina. O ideal, segundo Lígia, é iniciar os exercícios a partir dos 30, antes que a musculatura comece a se enfraquecer,Dentro dos consultórios, a busca pela beleza também é frenética. Uma das novas estrelas é o Evolution, preenchedor permanente de rugas e sulcos, criado na França e aplicado por aqui desde o começo do ano. Trata-se de um gel composto por álcool e água e que estimula a produção de colágeno. “O Evolution é ideal para grandes sulcos da pele ou cicatrizes profundas, não para pés-de-galinha ou rugas novas. Parece bom, mas ainda não existem muitos estudos clínicos sobre ele”, pondera Ana Lúcia Recio, membro da Academia Americana de Dermatologia. Contra a acne, há a novidade do Tazorac, remédio usado para tratar psoríase (doença de pele caracterizada por manchas vermelhas elevadas e escamas espessas). Descobriu-se, no entanto, que a droga diminui a oleosidade da pele e também a afina, por meio de uma técnica de descamação. Outra vedete contra o problema é o peeling com pasta de ATA (ácido tricloroacético). Na sua composição, há substâncias calmantes, que propiciam uma recuperação mais confortável. Além disso, o tratamento pode ser feito sem que o paciente tenha de ficar escondido do sol – e das outras pessoas também – dias a fio. Sua aplicação dura cerca de meia hora e, depois disso, é possível voltar a vida normal. Nada de manchas roxas ou vermelhidão assustadora, comuns nos peelings (processos de descamação da pele) de pouco tempo atrás. A ação mais rápida dos peelings, que também são usados com eficácia contra manchas e rugas, está se transformando na preferência dos pacientes. “Nos Estados Unidos, esses tratamentos são chamados de lunch time porque podem ser feitos na hora do almoço”, conta a médica Malba Bertino, que esteve presente no congresso da Academia Americana de Dermatologia ocorrido em San Francisco, em março.

A principal descoberta apresentada no evento foi o Genistein, produto antioxidante feito à base de soja desenvolvido pela Mount Sinai School of Medicine, dos Estados Unidos. Testado em animais, a substância mostrou eficácia em tratamentos de câncer de pele, queimadura solar e fotoenvelhecimento (provocado pela exposição ao sol). O Genistein protege a epiderme da ação dos raios ultravioleta. “Ele promete ser a maior revelação dos últimos tempos dentro da dermatologia. É eficaz como preventivo e também reverte sinais”, comemora Otávio Macedo. Os mecanismos de ação do Genistein, entretanto, estão sob investigação nos Estados Unidos e o produto ainda não está disponível. No mesmo congresso, a dermatologista paulista Mônica Fiszbaum tomou contato com um estudo feito por colegas americanos sobre uma luz de alta intensidade para combater o fotoenvelhecimento. A técnica não chega a ser laser porque a intensidade da luz é menor. O aparelho necessário para essa aplicação já existe no Brasil e é usado aqui apenas para depilação definitiva e retirada de tatuagens e manchas. “O estudo mostra que as transformações provocadas pela luz estimulam a produção de colágeno. Em dois dias, o paciente está praticamente normal, sem marcas na pele”, comenta Mônica.

Colágeno – O corpo humano também oferece respostas aos anseios de beleza. O colágeno que se aplica hoje para preencher sulcos é bovino. O que se está fazendo agora nos Estados Unidos é recorrer a bancos de peles em busca de colágeno humano. “Essas substâncias são utilizadas em forma de gel, o que facilita a aplicação. As chances de elas provocarem reações alérgicas são menores”, explica Vilhaça Neto.

Como se vê, os avanços na estética estão sendo feitos em todas as direções. E com bons resultados. “Os cosméticos melhoraram muito. Antigamente, eles não conseguiam mudar a pele. Hoje, a meta é essa”, avalia a dermatologista Denise Steiner. Há, é verdade, controvérsias. O dermatologista Sérgio Talarico, presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, contesta a posição da indústria. “Em tese, a cosmética não pode alterar a pele, senão o produto deveria ser aprovado como medicamento. Por causa disso, os fabricantes usam concentrações de substâncias inferiores ao necessário para que sejam eficazes. A todo instante se fala de um produto milagroso. Existe muito marketing.”

Precisão – Alheia às controvérsias, a ciência da beleza caminha com passos rápidos. Uma das últimas fronteiras, agora, é obter produtos que interfiram diretamente no interior da célula. E mesmo nesse campo há boas perspectivas. Dentro de dois anos devem surgir no mercado os primeiros produtos criados a partir das pesquisas que esmiúçam a estrutura celular da epiderme, a camada superficial da pele. Ao menos, são esses os planos das empresas que participaram do congresso europeu de cosméticos realizado no mês passado em Barcelona, na Espanha. “Os trabalhos estão mais precisos. Durante muitos anos, concentrou-se na epiderme. Depois, chegou a fase da derme (a camada média da pele). Estamos no momento em que investigamos as paredes da célula para encontrar o melhor produto. O alvo está ficando cada vez menor. É a ciência trabalhando para a cosmética”, avalia Elisabete Vicentini, da Natura.

É bom lembrar, no entanto, que cuidar da beleza é muito bom, mas não se deve exagerar. “Muitas pessoas pensam que querem apenas amenizar sinais e não percebem que estão atrás de algo maior: a auto-estima. Por outro lado, existem aqueles que se desesperam com qualquer marquinha. É preciso envelhecer com dignidade”, conclui a dermatologista Malba Bertino. Afinal, preocupação demais também causa rugas.

 

 

NOVIDADES NAS PRATELEIRAS


REQUINTE
Com shitake, Sisleya rejuvenesce

NATURAL
Linha feita à base de óleos de milho

ROSTO
Tratamento atenua sinais e absorve excesso de oleosidade

INÉDITOS
Opções contra rugas (prateado) e olheiras

VITALIDADE
Fórmula com enzima produzida pelo corpo regenera a pele

HIDRATAÇÃO
Maquiagem com maior composição de água chega em junho

MACIEZ
Produtos hidratam e nutrem com extratos vegetais

FRUTA
Sementes de uva são os ingredientes da marca francesa

INTERIOR
Suplementos fortalecem as células