Um famoso humorista brasileiro costuma dizer que filhos são ótimos, mas têm um defeito: eles crescem. Considerando o que está passando o prefeito de São Paulo, Celso Pitta, pode-se afirmar que o humorista está coberto de razão. O filho crescido do prefeito tem lhe trazido mais estragos do que a oposição. Na segunda-feira 24, a família Pitta, que desde março protagoniza escândalos públicos e domésticos por causa das denúncias feitas pela ex-primeira-dama Nicéa, virou notícia de polícia. O motivo: Victor Pitta, 25 anos, desempregado, filho mais velho do prefeito e de Nicéa. Logo pela manhã, Victor foi a um flat nos Jardins, bairro nobre da capital, tirar satisfações com a namorada, Daniella Negro. Ela, a amiga Carla Lima e seu namorado foram passar o final de semana no litoral com um Vectra – o mesmo que fora investigado pela CPI dos Precatórios – emprestado por Victor. “Ele ficou irritado, fumou um baseado e agrediu a mim e a Carla, quebrou um celular e jogou minha bolsa pela janela”, disse Daniella no 78º Distrito Policial, para onde todos foram levados em razão da gritaria.

Victor conta outra história. “Eu é que fui agredido”, afirma. “Fumo maconha há algum tempo, pois, com a vida que levo, se não fumasse ficaria muito maluco, mas na hora da briga não fumei nada.” Saber quem agrediu quem só será possível ao final do inquérito policial. O passado de Victor é bastante conturbado. No início de março, pouco antes de Nicéa disparar denúncias contra o prefeito, Victor deu um show de agressividade no gabinete do pai. Como Pitta havia se recusado a recebê-lo, ele quebrou computadores e telefones da ante-sala do prefeito. Dias depois, a rebeldia de Victor em relação ao pai foi ainda mais fulminante. Ele depôs no Ministério Público e confirmou as acusações feitas pela mãe. Seu depoimento favoreceu a abertura do processo de impeachment na Câmara. O envolvimento do filho crescido com as drogas também já trouxe problemas ao prefeito. Durante a campanha de 1996, veio à tona a prisão em flagrante de Victor com quase 100 gramas de maconha. Apesar da quantidade, o pai interferiu e o caso foi tratado como porte de droga para consumo, e não tráfico.

A briga de Victor com a namorada poderia ser apenas mais um caso rotineiro de uma delegacia, mas acabou trazendo prejuízos também para Nicéa. Ela foi socorrer o pupilo e disse que Daniella, antes de namorar Victor, era garota de programa. “Essa mulher está mentindo e será processada por isso”, ameaça a moça. Padrinho político de Pitta, o ex-prefeito Paulo Maluf também está na alça de mira de Nicéa e do Ministério Público e não raramente se depara com notícias do envolvimento de seu filho, Flávio, em maracutaias. Malufinho, como o filho de Maluf é chamado nos corredores do Ministério Público, ganhou notoriedade em 1994, quando seu nome foi encontrado nas listas da Paubrasil, empresa do pianista João Carlos Martins que emitia notas fiscais frias a empreiteiras para escamotear doações às campanhas malufistas. Nos escândalos que pairam sobre a gestão de Pitta, Flávio é acusado de lesar os cofres do Anhembi. Ele nega, mas ainda não convenceu os promotores. Em casa, Maluf o protege de tudo. Afinal, filhos dão problemas, mas quem os criam são os pais.