O brasileiro anda acertando os ponteiros com uma mania mundial: colecionar relógios Swatch. Os modelos de plástico colorido, que transformaram o Swatch Group no maior fabricante de relógios do planeta, com 250 milhões de unidades vendidas, caíram no gosto nacional. Mesmo sem estatísticas oficiais, os revendedores estimam que pelo menos dois milhões de Swatchs circulem pelo País. Num sinal dos tempos, o Swatch arregimenta fãs entre quem sonha em levar status no pulso, mas teme a cobiça que os Rolexs & afins possam provocar. E, embora os relógios sejam relativamente baratos (custam entre R$ 60 e R$ 200), a febre algumas vezes deixa sequelas no bolso. “Compro de dez a doze relógios por mês”, conta a analista de sistemas Rita Figueiredo Guedes, 34 anos. Ela estima que gasta R$ 700 por mês com a paixão – que começou em Nova York, em 1989, e hoje está na casa dos 300 relógios na gaveta.
Rita acaba de se inscrever no The Club da Suíça, entidade criada pela Swatch para agregar os colecionadores. No Brasil, o clube ainda não existe e os interessados em comprar modelos exclusivos, de tiragem limitada, precisam se matricular numa das sedes no Exterior. Pelo menos 400 brasileiros são sócios. A criação do The Club aqui é uma questão de tempo, segundo o gerente comercial da Swatch no Brasil, Carlos Byron. “O movimento ainda é pequeno para fazer o clube, mas as vendas estão dobrando ano a ano. Com a instalação de Swatch Stores e quiosques, a marca torna-se mais visível, e mais consumidores descobrem os relógios”, afirma Byron. Ele próprio há dois meses tenta comprar um modelo da série em homenagem às Olimpíadas de Sydney. “Estou correndo atrás, mas ele chega nas lojas e logo se esgota”, conforma-se.

Popular – A Swatch está há nove anos no Brasil, mas até 1998 seus relógios eram vendidos em poucas joalherias – os colecionadores precisavam garimpar para encontrar os modelos mais recentes e o modismo ficava limitado a quem podia consumar a paixão no Exterior. De dois anos para cá, porém, a marca começou a se popularizar com a abertura de dez Swatch Stores e dez quiosques espalhadas pelo Brasil. Até 2002, serão instaladas mais oito lojas próprias e 20 quiosques. No total, já são quase 700 pontos-de-venda, facilitando a vida de quem não vê a hora de acrescentar mais uma extravagância à coleção. “Passo toda semana na loja do Barrashopping e nunca saio de lá de mãos abanando”, exagera o comerciante Alfredo Neves da Silva Júnior, 27 anos. Em um ano e meio, ele juntou 150 relógios e não permite que ninguém chegue perto deles.

Na casa do colecionador português Sérgio Todo Bom, 32 anos, ninguém também se atreve a mexer nas preciosidades do fã ardoroso da marca. Sérgio acompanha com atenção as cotações no mercado. “O ovelha negra, por exemplo, já está valendo US$ 1 mil. Era um relógio comum, com ovelhas na pulseira, mas fez tanto sucesso que esgotou”, diz. Ele guarda com orgulho modelitos inacreditáveis, como um de penas laranja (que vem numa frasqueira de verniz verde-limão); o gnomo, com pulseira de duendes e embalado num cogumelo de gesso; e a série cinema, em homenagem aos diretores Pedro Almodóvar, Robert Altman e Akira Kurosawa. “Comprei o cogumelo por R$ 150, num shopping em Portugal, e, quando saí da loja, uma senhora me ofereceu R$ 500. É uma valorização extraordinária.”

Na Europa, Sérgio gastava entre R$ 8 mil e R$ 9 mil a cada lançamento (semestral) de coleção da série originals, nome oficial dos relógios de plástico. O empresário Gilberto Tarantino, proprietário de quatro lojas Swatch em shoppings de São Paulo, conta que há coleção nova a cada seis meses para evitar falsificações. Além disso, a idéia é fazer uma peça para datas especiais – como Dia das Mães, Dia dos Namorados e até as Olimpíadas. “Os relógios Swatchs são um sucesso. São curiosos, alegres e de bom-gosto”, afirma Tarantino. E Swatcher que se preza não se limita aos relógios. A consultora de recursos humanos Luci Almeida, 37 anos, tem bolsa, jaqueta e camiseta da marca – além de mais de 100 modelos. Luci é uma verdadeira caçadora de relógios perdidos. “Em Punta Cana, na República Dominicana, achei numa lojinha de hotel um modelo, de inspiração indiana, que estava namorando havia uns três anos”, orgulha-se. O Swatch virou minha marca registrada: “Hoje, primeiro escolho o relógio e só depois vejo a roupa que vou usar”.