Magrelo, de grandes olhos castanhos e agilidade de um coiote, Fernando Meligeni distribui generosas gargalhadas pelas quadras do mundo. Sua capacidade de rir de tudo e tirar sarro, mesmo quando está perdendo, dá mais do que falar que a sisudez germânica do companheiro e adversário Gustavo Kuerten. Aos 29 anos, o argentino naturalizado brasileiro já está no tênis profissional há quase uma década. Mas o pulo-do-gato veio agora, com a maturidade. A exemplo de campeões como André Agassi, Tomas Muster e Pete Sampras, que chegaram ao topo perto dos 30, Meligeni joga leve, meticulosamente, como se soubesse exatamente onde atingir o rival.

Num esporte em que, de uma semana para outra, pode-se saltar de 100º no ranking a top ten, Meligeni já sentiu o gosto de ser o número 1. Estreou no circuito profissional, em 1992, e em pouco tempo desbancou feras como Luiz Mattar e Jaime Oncins. Foi chamado de gênio. Até que, em 1997, viu os focos da imprensa se voltarem para Guga, um catarinense seis anos mais novo, com quem chegou a dividir o quarto em torneios. Parecia fadado à condição de coadjuvante até que, no mês passado, ajudou o País a se classificar para as semifinais da Copa Davis, batendo o eslovaco Karol Kucera de virada. Voltou a ser tratado como ídolo. “No tênis se vive de resultados. Dão importância ao último ponto e esquecem o resto”, desabafa.

Mas os altos e baixos podem ser fundamentais para o atleta. Canhoto, até há pouco tempo Meligeni tinha de empunhar a raquete com as duas mãos para devolver a bola pela direita e só jogava no fundo da quadra. A concorrência o obrigou a engatar um rígido condicionamento físico e mudar o jogo. “A verdade é que a chegada de Guga puxou um pouco o Fernando”, admite o técnico de Meligeni, Ricardo Acioly. “Ele teve de ir atrás dos resultados e hoje exibe no olho a vontade de ganhar”, empolga-se. Meligeni agora viaja acompanhado de médico, nutricionista e preparador físico e ganhou um quilo e meio de massa muscular. Exibe mais segurança na quadra e não se desespera nas finais. No ranking da Associação dos Tenistas Profissionais, divulgado na segunda-feira 24, Meligeni aparece como o 33º colocado.
Em jogo, Fino, como é chamado por causa de seus 67 quilos distribuídos em 1m81, parece de elástico. Saca a 187 km/h e, na devolução, faz de tudo para não deixar a bola tocar o piso de saibro. Como um goleiro, dá mergulhos na quadra, se joga na rede e acaba lambuzado de terra. “Muita gente acha que ele faz isso para aparecer”, diz o pai, o ex-fotógrafo Oswaldo Meligeni, 58 anos. “Quando vira à milanesa é que o jogo pega fogo e ele esmigalha o adversário.”

Disciplina – Meligeni não bebe, não fuma e em dia de competição vai para a cama às 8 da noite. Viaja sete meses ao ano. Nas poucas vezes em que fica em casa, em São Paulo, o programa pode ser comer uma massa, tomar um milkshake duplo de chocolate ou dançar na boate Gitana na companhia de amigos. Namoro sério ele jura que não tem há um ano e meio e se revela modesto também na arte da sedução. “Moro sozinho, não cozinho e não tem ninguém me esperando em casa.” Nos últimos tempos, seus romances não duram mais que dois meses. Férias, só em dezembro, quando visita a casa dos pais, em Angra dos Reis, litoral do Rio. “Adoro velejar”, diz. O pai, no entanto, entrega que como velejador Fino não passa de um excelente tenista. Desde os nove anos, ele o acompanha em regatas de Santos ao Rio de Janeiro, mas seu negócio é velocidade. Fino tem uma lancha McLaren de 24 pés que vive cheia de amigos e pratica esqui aquático. Já cansou de convidar o iatista Robert Scheidt, seu amigo desde as Olimpíadas de Atlanta, para velejarem juntos. Mas nunca dá tempo porque as férias coincidem com a preparação para o Aberto da Austrália.

Durante o primeiro semestre do ano, a preocupação é disputar o maior número de torneios possível para garantir pontos no ranking. Na corrida por uma vaga em Sydney, o tenista ocupa a 78º colocação. Precisa estar entre os 50 para disputar as Olimpíadas. Até o fim do mês, toda semana ele estará jogando num país diferente, Mônaco, Espanha, Alemanha, Itália e França. “É uma pedreira só”, diz.
Na semana passada, com Guga temporariamente fora de combate por causa de uma lombalgia aguda, ele bateu o belga Christophe Rochus por 2 sets a 0 em Barcelona. O resultado foi comemorado com a equipe técnica e por e-mail com os amigos. “As maiores alegrias e tristezas passo sozinho num quarto de hotel.” Sacaram meninas?