Entre leitores contumazes, os fanáticos por romances policiais se distinguem pelo fervor com que se dedicam ao estilo, às minúcias do enredo, características que os aproximam dos gourmets ou enólogos. Por isso, a idéia de juntar autores que se propusessem a escrever novelas do gênero tendo como protagonistas escritores célebres, geralmente seres dotados de personalidades idiossincráticas, é uma tacada certeira que começa a se desenvolver na coleção Literatura ou morte, com uma projeção de 20 volumes. O primeiro deles é A morte de Rimbaud (Companhia das Letras, 160 págs., R$ 17), escrita por Leandro Konder.

O Rimbaud de Konder, na verdade, é um apelido. Ele é Rambo. A vítima, Severino Cavalcante, praticava musculação e era um escritor medíocre sustentado por Bergotte, um milionário excêntrico e apaixonado por livros. A história, narrada sempre na primeira pessoa, com os personagens se revezando, se passa em uma semana, período no qual o detetive Sdruws, contratado pelo mecenas, se dispõe a resolver o caso. Escrito em linguagem agradável, cheio de passagens picantes e com direito a epígrafes eruditas – Petrônio, Maquiavel, Karl Marx, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, etc. –, o livro prenuncia outros momentos de boa leitura. Vem aí (Robert Louis) Stevenson sob as palmeiras, de Alberto Manguel, O doente Molière, de Rubem Fonseca, e Medo de Sade, de Bernardo Carvalho.