Se dependesse do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, seu país já estaria integrado ao Mercosul – o bloco econômico que une Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e tem como associados a Bolívia e o Chile. Tanto é verdade que apenas cinco dias depois de ter sido eleito, em dezembro de 1998, o polêmico militar transformado em político já estava no Brasil dizendo que a Venezuela queria participar do clube do Cone Sul.

Hoje, depois de convocar uma Constituinte, Chávez ampliou seu poder internamente – deve ser confirmado na presidência na eleição de maio próximo –, mas seu sonho de associação com o Mercosul ainda não se concretizou. Mesmo assim, ele já alimenta ambições bem maiores, dignas do libertador Simón Bolívar: quer que a Venezuela seja um pólo aglutinador entre os blocos formados pelos países do Caribe, da comunidade andina e do Mercosul. “Queremos converter a América do Sul e o Caribe num grande bloco econômico. E a Venezuela pode servir de elo, já que está unida a esses três grandes eixos geopolíticos: o caribenho, o amazônico e o andino. Nós vamos jogar duro, como se diz no futebol, para fazer este gol junto com a América do Sul e o Caribe”, garantiu Chávez, respondendo a uma pergunta de ISTOÉ numa coletiva em Havana, durante a primeira cúpula do Grupo dos 77 (países do Terceiro Mundo).

“O Mercosul é um poderoso instrumento para concretizar a idéia de integração regional e está se transformando num território onde a utopia está deixando de ser impossível. O papel do Brasil será determinante nos processos de integração econômica da América do Sul”, disse. Tão determinante, ao que parece, que o presidente venezuelano já resolveu aprender o português.

E a estratégia de Chávez para viabilizar a entrada da Venezuela no Mercosul é justamente o aprofundamento das relações bilaterais com o Brasil. “Fizemos muitos avanços em apenas um ano”, comemora ele, citando acordos assinados em vários setores entre Caracas e Brasília. Destes, ele destaca o convênio entre as estatais de petróleo PDVSA e Petrobras, o fornecimento de energia elétrica para o Norte do Brasil e um projeto para estabelecer uma linha aérea unindo o Sul da Venezuela ao Norte do País.

Os acordos também incluem a cooperação militar. “Agora mesmo há navios da Marinha de Guerra venezuelana navegando em mares brasileiros em manobras conjuntas. Nossa Marinha também irá participar das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil e vamos fazer manobras aéreas conjuntas entre as Forças Aéreas dos dois países”, revela.

Chávez está confiante de que o presidente Fernando Henrique Cardoso é um grande aliado da idéia de integrar a Venezuela ao Mercosul. “Quando o presidente brasileiro nos visitou, há duas semanas, voltamos a renovar a idéia. O Brasil vai assumir a presidência do Mercosul em poucas semanas e Cardoso me garantiu que faria o possível para que nosso país se integrasse ao bloco”, anunciou. “Este processo gera incômodos em alguns e temores em outros, mas estou seguro de que é o caminho certo. Por isso, nós propusemos, numa primeira etapa, a incorporação política no Mercosul, nos moldes do que ocorre com a Bolívia”, disse Chávez.