Nesta semana, enquanto famosos tentavam conseguir convites para a festa do Descobrimento, um grupo de aventureiros viajava sem pressa. Eles deixaram suas casas rumo a Porto Seguro, no litoral sul da Bahia, com dias e até meses de antecedência. Foram para lá de bicicleta, a cavalo, de barco a vela ou de motocicleta, transformando os 500 anos do País numa grande aventura. O baiano Júlio Esteves, 37 anos, cruzou o oceano Atlântico a bordo de um barco a vela sem motor. Zarpou de Dacar, no Senegal, no último dia 11, para terminar uma viagem interrompida há 13 anos. Navegador e professor de hobbie cat, ele tentou, em 1987, fazer a travessia África–Brasil, mas no meio do caminho seu co-piloto, Rafael Ribeiro, teve uma hepatite aguda e morreu. Desta vez, a aventura deu certo. Em 15 dias – dez a menos do que o previsto –, Esteves já estava nas proximidades do arquipélago de Fernando de Noronha.

Quem veio a cavalo demorou mais. Partindo de São Paulo, o siciliano Giuseppe Constantino, 51 anos, levou três meses para percorrer a costa brasileira como tropeiro. Viajou com os amigos Rubens Acicca, 53, e Wagner Ferreira, 37, tendo como transporte um cavalo lusitano, quatro mangas-largas marchadores e três mulas. “Sempre sonhei fazer uma viagem longa e, quando a Globo começou com essa história de Brasil 500 anos, fui atrás de um patrocínio”, afirma o imigrante, que veio para o Brasil aos seis anos. “Quero agradecer a este país por ter nos recebido tão bem.”

No Ceará, o vendedor José Ribeiro dos Santos Filho, o Zezinho, recrutou um grupo de 22 colegas no Jeep Clube de Fortaleza com uma proposta inusitada: ir até Porto Seguro de bicicleta. Na hora, todo mundo se entusiasmou. Mas, em 2 de abril, quando deveriam partir, somente Francisco do Nascimento, o Maninho, 28 anos, apareceu. Com apenas R$ 500, ferramentas para as bicicletas e uma barraca, Zezinho e Maninho partiram sob aplausos. E em cada cidade, jipeiros que tinham ouvido falar de sua façanha se ofereciam para ajudar. Os 2,2 mil quilômetros de volta não serão percorridos de bicicleta. “Vou de jipe. Gostei tanto da aventura que voltaria pedalando, mas sai caro.”

De acordo com a Secretaria de Esportes e Turismo de Porto Seguro, pelo menos 600 pessoas deveriam chegar à cidade por vias menos convencionais. O único a avisar a prefeitura foi o vendedor autônomo Ivaniel Campos de Oliveira, 52 anos, que foi de caiaque. Ele partiu de São Vicente, no litoral de São Paulo, em 18 de março e deveria chegar após 800 mil remadas. Mas pode se atrasar porque enfrentou frentes frias e ondas de até dois metros de altura em Cabo Frio, no litoral fluminense. Levou dez dias para atravessar esse trecho.

Velocidade não será problema para o executivo paulistano César Tadeu Carloni, 44 anos, que, junto com três amigos, decidiu cruzar os 1,5 mil quilômetros entre São Paulo e Porto Seguro de moto.

Todos têm possantes BMWs. “A viagem pode não ser tão confortável, mas nem sempre o jeito racional é o mais gostoso”, diz.
Que o diga o médico português Pedro Gameiro. Desde 1981, quando adquiriu um veleiro, ele realiza aventuras. Já viajou guiado apenas por uma bússola e um astrolábio, como seus patrícios do século XVI. Só faltava vir ao Brasil. “Dizem que o homem tem de escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore. Eu refiz a rota de Cabral.”