Os últimos dois anos mudaram radicalmente o panorama da ciência no Brasil. Depois do sequenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa, os pesquisadores internacionais passaram a ver o país de forma diferente. A iniciativa de reunir várias universidades e institutos numa mesma pesquisa ajudou a melhorar a imagem do Brasil lá fora. O sucesso da Xylella também estimulou o desenvolvimento de outros projetos da Fapesp, a agência financiadora do Estado de São Paulo, entre eles o mapeamento do genoma do câncer humano e da cana-de-açúcar.

Sempre tivemos ilhas, focos isolados de excelência, mas atualmente há um programa brasileiro de pesquisa em ciência de ponta. Hoje somos mais ousados. Perdemos o medo de competir. Na genética, concorremos com os maiores centros de pesquisa do mundo. Mas é uma competição saudável, para gerar conhecimento, objetivo comum a todos. Essa ousadia é sinal de que temos idéias e podemos contribuir para a ciência mundial.

No projeto genoma brasileiro, uma coisa fenomenal foi a criação do instituto virtual Onsa (Organização para Sequenciamento e Análises de Nucleotídeos). Na Inglaterra, criou-se um centro para reunir todos os cientistas que trabalhariam no projeto genoma. No Brasil, decidiu-se por algo diferente, um instituto virtual, sem prédio, nem telefone. Usaram-se a infra-estrutura e os laboratórios já espalhados pelo País, o que trouxe rapidez e gerou um sentimento de coletividade, de colaboração.

Para vencer um inimigo, é preciso antes conhecê-lo. Por isso decidimos pesquisar o genoma do câncer humano estudando os tumores. Queremos descobrir os genes que são ativados, ou os que provocam o desenvolvimento da doença. A idéia é achar indicadores para diagnosticar o câncer rapidamente e aumentar as chances de terapia. O estudo está adiantado. Pensávamos em atingir 500.000 sequências até maio de 2001, mas vamos acabar em outubro deste ano. Iniciativas como essa nos dão otimismo, mostram que as coisas tendem a melhorar.

Até o meio do ano teremos 95% do genoma humano mapeado. O desafio será entender o que a sequência de letrinhas significa no corpo humano. Isso abre uma perspectiva tremenda. Nos próximos dez anos, vamos tentar entender o genoma humano e, com isso, as doenças. Um dos reconhecimentos do nosso trabalho é que pesquisadores dos EUA já nos procuram para fazer parcerias (leia texto na página 116).”
Sandro de Souza, 32, é biólogo, fez pós-doutorado na Universidade de Harvard, participou do projeto do genoma da Xylella e hoje é chefe do laboratório de biologia computacional do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer de São Paulo.

Orgulho
Afetuosidade “A natureza amistosa e receptiva do povo brasileiro me deixa muito feliz”

Vergonha
Desigualdade “A sociedade deveria se reunir e chegar a um consenso para acabar com isso”