"Nestes 500 anos, os brasileiros têm muito do que se orgulhar. Infelizmente, também não faltam motivos para sentirmos vergonha de nossa história. No campo da língua, lamento muito o fato de não termos um segundo idioma: os países africanos, mesmo com dificuldades, conseguiram manter sua língua de origem. Nós ficamos apenas com o português, o idioma do colonizador. Pouquíssimas pessoas ainda falam o tupi. Até fiz uma música, Lusofonia, dizendo que gostaria de cantar em bom tupi. O massacre dos índios ao longo destes cinco séculos também deve ser motivo de reflexão. É, sem dúvida, um dos piores momentos de nossa história. O extermínio sistemático de povos e de suas culturas não pode e não deve ser esquecido.
Também acho muito triste a quantidade de analfabetos no Brasil. Somos uma nação culturamente riquíssima: nossos poetas, escritores e músicos são respeitados lá fora. A música brasileira, então, é festejada em todo o mundo, conquistou prestígio graças à sua qualidade. Curioso é que isso acontece num país que tem um dos mais altos índices de analfabetismo do planeta. Fica difícil explicar a um estrangeiro como essas duas realidades convivem no mesmo país.
Explicar a realidade brasileira, por sinal, é dificílimo. Como fazer alguém entender que um país rico como o Brasil, que tem uma das maiores economias do mundo, abriga tanta gente pobre? Eu não consigo entender essa dualidade. O que deveria ser motivo de orgulho, o fato de termos nascido em uma nação abençoada, acaba se transformando em razão para vergonha: não é possível que até hoje o Brasil ainda não tenha encontrado um meio de distribuir essa riqueza com mais justiça. Às vezes, dá vontade de ficar só criticando o País, porque a situação é realmente incompreensível.
Mas, mesmo com tantos problemas, acredito que num ponto todos os brasileiros concordam: não existe povo no mundo que possa se orgulhar tanto das belezas de seu país como nós. Pelo menos nesse quesito, temos de admitir: somos uns privilegiados.”
Martinho da Vila, 62 anos, é fluminense de Duas Barras e está lançando o CD Lusofonia, que conta com a participação de artistas portugueses e de países africanos de língua portuguesa.

 


Orgulho

Música
“É festejada em todo o mundo, conquistou prestígio graças à sua qualidade”
Belezas “Pelo menos nesse quesito, temos de admitir: somos uns privilegiados”

Vergonha
Índios “O extermínio de povos e de suas culturas não pode ser esquecido”
Analfabetismo “É muito triste o número de analfabetos no Brasil”
Renda “Temos de encontrar um meio de distribuir a riqueza”