"O nascimento da indústria no Brasil foi uma história de sucesso, ponderada por alguns insucessos. Uma de suas principais características foi o fato de as nossas forças produtivas terem conseguido aproveitar as oportunidades que o mundo oferecia, mesmo sendo negativas. Foi assim na primeira metade do século, quando tivemos o desenvolvimento da atividade comercial do café e a implantação do trabalho assalariado, que criou o mercado interno. Tivemos, nesse período, pontuado por guerras e pela crise de 1929, vários momentos de ruptura da capacidade de importar. Ficamos estrangulados e fizemos a substituição da importação, produzindo o que antes era importado. Transformamos um fato negativo (a incapacidade de importar) em algo positivo: o desenvolvimento da indústria. Na segunda metade do século XX, a industrialização passou a ser amparada pela presença maciça e estratégica do Estado brasileiro, que se propôs a assegurar o fornecimento de bens absolutamente necessários à expansão das empresas internacionais. Assim, transformamos uma tendência do capitalismo internacional, que foi a expansão das empresas multinacionais, na nossa industrialização.

Os anos 80 foram trágicos para as economias subdesenvolvidas, submetidas a um fechamento forçado por não terem recursos para financiar as suas operações externas. Hoje, infelizmente, não estamos conseguindo aproveitar os acontecimentos externos a nosso favor. O mundo globalizado não é um mar de rosas. Ele gera ineficiência, desigualdades e conflitos. Mas nós não estamos sequer aproveitando o que ele pode trazer de bom. Os últimos 20 anos foram muito traumáticos e ruins em termos de desempenho econômico. Ainda estamos buscando um novo modelo de desenvolvimento e de industrialização. O capitalismo brasileiro está em crise, batendo cabeça há 20 anos. Falta desenvolver aquilo que emperra o nosso capitalismo: um mercado de capitais com uma empresa bem estruturada e aberta, desenvolvimento tecnológico, uma política de exportação e investimento na educação.”
Júlio Sérgio Gomes de Almeida é diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e economista

Orgulho
“O Brasil se transformou numa das maiores economias do mundo. Construímos um mercado interno e uma base industrial fortes”

Vergonha
“O desenvolvimento econômico não reduziu as desigualdades. Não conseguimos construir um modelo de industrialização nos últimos 20 anos”