"Muita coisa deu certo nestes últimos 500 anos. É claro que o Brasil poderia ser um pouco diferente. Algumas pessoas imaginam que poderíamos ser os Estados Unidos. Temos até tempo para isso. Mas a história foi muito diferente, e não existe teoria econômica sem história e sem geografia. O Brasil, na verdade, teve um condicionamento histórico muito importante. Ele se caracterizou durante séculos como um fornecedor de matéria-prima. Tivemos um desenvolvimento industrial muito tardio, com todas as suas dificuldades por ser apoiado em um produto sujeito a uma grande oscilação, e que trouxe essa oscilação para dentro do País. Durante anos, o câmbio era café e o café era câmbio.

Depois das duas Guerras Mundiais tivemos um enorme surto de crescimento. Hoje temos uma situação melhor, nos libertamos do grande constrangimento do crescimento, que é o câmbio sobrevalorizado. Outra vez o câmbio. O câmbio persegue o Brasil durante todo esse tempo. Hoje acho que podemos continuar a crescer. Acho que o justo não é comparar o Brasil nesses 500 anos, mas nos últimos 60 anos. Aí fizemos muito. O Brasil não chegou à oitava economia do mundo sem razões objetivas. Tinha uma classe trabalhadora inteligente, uma classe empresarial muito esperta, capaz de descobrir onde está o lucro. E teve governos bons e maus.
Não podemos imaginar que o Brasil, quando você considera sua localização, é excêntrico em relação ao mundo. O mundo aconteceu, na verdade, no Hemisfério Norte. Nós fizemos muita força para participar disso, mas não dá para entortar o globo! O que falta fazer? Falta muita coisa. Falta, na verdade, fazer o desenvolvimento. Falta uma concepção de Brasil. Falta que o Brasil se pense a si mesmo. O mundo se globalizou, o movimento de capitais é livre e estamos sendo metabolizados por esse mundo novo. Mas estamos perdendo nossa identidade.

Vejo o brasileiro de vez em quando escolhendo a pobre condição de ser garçom desse banquete. Nossos tecnocratas têm uma tendência enorme de preferir ser garçom. Aquele sujeito que não tem responsabilidade e que só precisa obedecer o que o maitre diz. Ou, no máximo, se antecipar, fazendo exatamente o que o maitre pensou. Mas o Brasil nunca esteve numa posição tão conveniente como está hoje. Essa é a hora de o País compreender que tem chance de ser um player global, que tem todas as condições de sentar à mesa dos participantes efetivos desse grande banquete da globalização.”
Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura no regime militar e deputado federal (PPB-SP)

Orgulho
“O Brasil fez muito nos últimos 60 anos e não chegou à oitava economia do mundo sem razões objetivas. Tinha uma classe trabalhadora inteligente e uma classe empresarial muito esperta”

Vergonha
“Odeio a recessão, o desemprego e os economistas neocolonizados. Não necessariamente nesta ordem”