"Do que mais me orgulho é de nossa resistência, de como o povo brasileiro se defende de nossas elites, políticas e sociais. Acho incrível como essa gente consegue viver, sobreviver e avançar, mesmo com esses dois grandes entraves. A elite política dificulta a vida do povo em sua quase totalidade, desde a hora em que acorda até quando volta tarde para casa. O salário mínimo é um bom exemplo disso. A desumanidade da elite brasileira é tanta que ela chega a fingir que nem sequer tem alguma coisa a ver com esta nação.

O que mais me envergonha é a desorganização social brasileira. Basta observar o que está sendo revelado de um ano para cá em matéria de corrupção para se compreender o que quero dizer. Essas conexões de corrupção estão abrangendo todas as cidades de grande e de pequeno portes, com envolvimento de parte de nossos representantes no Congresso. Intuímos que toda essa podridão sempre existiu, mas só agora está sendo divulgada. Só que está vindo à luz em tal montante, em todos os estágios, que nos causa uma profunda vergonha. É um conjunto de coisas, uma cadeia de envolvimentos, em todos os níveis.

Resistimos em todas as áreas, inclusive na arte e na cultura. Um exemplo recente é o trabalho de Zelito Vianna. Só ele e sua equipe sabem o que tiveram que enfrentar para terminar o filme Villa-Lobos – uma vida de paixão. Quantas vezes tiveram que fazer e refazer para provar que eram capazes. Este é o Brasil.”
Fernanda Montenegro, 70 anos, é atriz

Orgulho
Resistência “Como o povo se defende das elites políticas e sociais”
Sobrevivência “Acho incrível como essa gente avança, apesar dos entraves”

Vergonha
Desorganização social “O salário mínimo é um bom exemplo disso”
Corrupção “Intuímos que a podridão sempre existiu”