A última quinta-feira foi emblemática. O que prometia ser o início de uma nova onda de grandes manifestações no País revelou-se um tremendo fiasco. Embora estridente e com capacidade de tumultuar a vida das grandes cidades, o movimento #nãovaitercopa atraiu pouquíssima gente em seus protestos. Mostrou apenas que, no Brasil de hoje, é relativamente simples tornar a maioria refém de minorias extremistas, que ainda não saíram da adolescência política. Gente mais disposta a quebrar do que a construir.

No entanto, se o fracasso da “quinta-feira negra” trouxe certo alívio aos organizadores do torneio, isso também não significa que o Mundial será a #copadascopas. Houve falhas na organização e a principal delas é o fato de a abertura estar sendo realizada num estádio, a Arena Corinthians, que não terá passado por nenhum evento-teste com sua capacidade máxima antes do pontapé inicial entre Brasil e Croácia. Ou seja, há um risco, que as autoridades brasileiras aceitaram correr e que foi menosprezado pela Fifa.

Há também cidades, como Cuiabá, que parecem cenário de guerra para quem deixa o aeroporto, tantas são as obras inacabadas. Mas há capitais, como Brasília, que fizeram o dever de casa, onde já foi entregue um novo aeroporto de altíssimo padrão, com obras de mobilidade em seu entorno, e também uma das melhores arenas do País. Ou seja, o retrato real da Copa é o do copo meio cheio, meio vazio. Padrão Brasil: nem Primeiro Mundo nem Terceiro Mundo.

Ocorre que uma visão realista não interessa às forças políticas que disputarão a taça que realmente importa, em outubro deste ano.

O ex-presidente Lula, por exemplo, afirmou que a oposição torce pelo fracasso da Copa, como se disso “dependessem suas chances eleitorais”, enviando uma indireta ao tucano Aécio Neves – ao que o tucano respondeu com ironia, insinuando que o time adversário já estaria nervoso antes de entrar em campo. Marina Silva, símbolo da “adolescência política”, publicou artigo contra o torneio, apontando uma “explosão” de indignação nas ruas. E a presidenta Dilma, por sua vez, previu também uma explosão, mas de outra natureza. Segundo ela, quando a bola rolar, “esse País vai endoidecer”.

Disputas políticas à parte, o fato é que #vaitercopa, com mais arenas do que teria sido necessário e com um legado real que, sim, será deixado às próximas gerações. Não apenas em obras físicas, mas também em amadurecimento político.