Os primos Gilda de Mello e Souza e Mário de Andrade viveram uma história de parceria intelectual e afetiva que fala sobre uma fase vibrante dos estudos humanistas no Brasil. “A Palavra Afiada” (Ouro Sobre Azul), organizado por Walnice Nogueira Galvão, reúne uma série de entrevistas esparsas da filósofa Gilda de Mello e Souza, uma das fundadoras da revista “Clima” e primeira ocupante da cadeira de estética da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Algumas inéditas, como a concedida ao jornalista Augusto Massi, em 1993, e outras já conhecidas, em conjunto elas apresentam a múltipla e respeitada trajetória intelectual da filósofa.

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TROCA
Volume organizado por Walnice Nogueira Galvão mostra a influência
do escritor Mário de Andrade (acima) na carreira da filósofa Gilda de Mello e Souza

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É quase uma preparação arquitetada pela organizadora – para a cereja do bolo, o compêndio final com dez cartas escritas por Gilda ao primo entre 1938 e 1942. Prestes a se formar, num momento em que pedia autorização à família para trabalhar, tinha em Mário de Andrade um farol que muito a ajudou nas escolhas que definiram os seus rumos. “As cartas são cruciais para entabular um debate sobre as tomadas de decisão quanto à vocação, debate candente nessa fase da vida de Gilda”, escreve a organizadora no prefácio. Vinda do Fundo Mário de Andrade, arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), a correspondência – na verdade só as cartas escritas por Gilda – compõe um quadro raro da proximidade e da admiração mútua dos primos e também deixa clara a influência decisiva dos estudos brasileiros de Mário de Andrade no percurso que a filósofa seguiria na década seguinte, à frente da cadeira de estética, e anos depois, como chefe de departamento. Mas também há passagens afetivas entre os familiares, que chegaram a viver na mesma casa e se mantiveram próximos por toda a vida – daí a escassez de cartas, uma vez que sempre se viam.

"A primeira maneira que eu tenho de ver o Mário – é curioso – é pelos
sapatos. Acho que foi a primeira coisa que vi – não só porque ele
era muito grande e o pé era enorme e eu muito pequenininha,
tinha 3 ou 4 anos nessa ocasião"

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