Emergem das urnas algumas lições concretas que podem dar boas pistas de como vota o eleitor brasileiro. A mais efetiva delas: a vitória do "tempo bom". Em outras palavras, o cidadão quer a continuidade de administrações que, tocadas em época de bonança econômica, distribuíram benefícios concretos à população. Essa predileção explicaria, por exemplo, o fato de quase todos os nomes de prefeitos que disputaram o voto para a reeleição no domingo passado terem ganho ou estarem no segundo turno para novo mandato. Aconteceu em várias capitais e mesmo em municípios do interior. Aos números: nas 15 capitais onde a definição saiu logo no primeiro turno, 13 delas elegeram para novo mandato o atual prefeito. Mais sete prefeitos continuam no páreo para reeleição no segundo turno nas 11 capitais restantes, entre elas São Paulo. O que turbina esse desempenho é o excepcional aumento da receita orçamentária das cidades, que, em média, cresceu mais de 45% no caso das capitais, no período de 2004 a 2007.

Outra realidade que salta das urnas: ao contrário do imaginado, não é tão simples assim nem tão direta a transferência do imenso capital político do presidente Lula para os seus escolhidos. A maior vencedora do PT, a reeleita prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, nem sequer contou com a presença desse cabo eleitoral, dado que o presidente temia criar um constrangimento com outro aliado político na região – seu exministro Ciro Gomes, que apoiava a exmulher Patrícia Saboya ao mesmo cargo. Em São Paulo, principal tabuleiro da disputa do governo com a oposição, Lula chegou a seguir em carreata com a candidata Marta Suplicy e mesmo assim ela ficou atrás, em mais de 50 mil votos, do atual prefeito, Gilberto Kassab, que colhe dividendos de programas como o Cidade Limpa e o rodízio dos caminhões. Porto Alegre teve toda carga de apoio da ministra Dilma Rousseff , virtual opção à sucessão de Lula, mas o desempenho da petista Maria do Rosário ficou aquém do esperado. A grande resposta que vem do segundo turno é como será a disputa presidencial à luz dos resultados dessa rodada para prefeitos. O xadrez político está reposicionado e a hegemonia na cidade mais rica do País é o maior de todos os prêmios para o futuro presidente.