Pressionado pelas pesquisas que o apontam distante de um eventual segundo turno o ex-governador pernambucano Eduardo Campos, pela primeira vez, sinalizou ao eleitor que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é antes um adversário – e não um aliado – no esforço comum de destronar o PT. Campos primeiro disse estar “à esquerda” de Aécio e, em seguida, endossou a crítica de sua vice, Marina Silva, que afirmou que o PSDB tem “cheiro de derrota” no segundo turno.  Por fim, afirmou que tem mais capacidade de unir o País do que o tucano.

O estar “mais à esquerda” seria explicado, segundo Campos, pelas origens dos dois candidatos. Ele, neto de Miguel Arraes, entusiasta das Ligas Camponesas e perseguido pela ditadura; Aécio, neto de Tancredo, um conciliador nato, que conseguiu se equilibrar em momentos antagônicos da vida política brasileira. Ocorre que, ao eleitor, interessa mais as atitudes do que a história. E ao propor pontos como a meta de inflação de 3% ao ano e a autonomia do BC e também não desmentir o rumor de que o banqueiro Roberto Setubal, do Itaú Unibanco, seria seu ministro da Fazenda, Campos sinalizou estar à direita – e não à esquerda de Aécio. Tentou se vender ao chamado mercado como um personagem mais ortodoxo do que o rival.

Ao mesmo tempo, no que diz respeito ao social, ele tem adotado a linha de que “é possível fazer mais”. Numa entrevista a uma rádio mineira, prometeu ampliar o Bolsa Família.

O ponto é que é impossível estar à direita de Aécio e à esquerda de Dilma ao mesmo tempo. A conta não fecha, como, aliás, foi notado por Dilma. Ela lembrou que trazer a inflação a 3% seria uma medida recessiva, que exigiria juros altíssimos, elevaria o desemprego a 8,2% e, reduziria a margem de manobra para gastos sociais.

Isso não significa que Campos não tenha condições de crescer. Mas o espaço que ele deve ocupar no imaginário deve ser o do novo. Dos três principais candidatos, foi ele quem produziu o fato mais importante da pré-campanha, ao laçar Marina Silva. Mas a presença da ex-senadora não cai bem nos salões empresariais que Campos frequenta e o discurso do socialista aos figurões da economia também afugenta os marineiros. O casamento, até agora, subtraiu mais do que somou.

Caberia à dupla tentar encarnar o sentimento dos brasileiros que foram às ruas em junho, incomodados com a má qualidade de serviços públicos e a captura do País pela agenda das grandes empreiteiras – que, coincidentemente, foram o alvo de manifestações na última semana. Em vez de tentar conquistar os corações dos ricos, com mais juros, e as mentes do povão, com mais Bolsa Família, Campos só tem um caminho: o de tentar convencer o eleitor de que é capaz de entregar um Estado mais eficiente. Uma agenda que interessa a todos, insatisfeitos com o fato de um país próspero como o Brasil ainda oferecer serviços públicos tão precários.