PAULO-01-IE-2319.jpg

Seria um amontoado de capacetes solitários rejeitados por hordas de motoboys? Ou um bando de leguminosas mutantes em estado de decomposição? (sim, houve quem achasse se tratar de repolhos). “Na maioria das vezes, vendo esta imagem, as pessoas levam um tempo para perceber do que se trata”, conta, rindo, Cássio Vasconcellos, o autor da foto. E foi intencional – ele clicou esse “cemitério de orelhões” com ângulo fechado para gerar esse estranhamento.

A imagem é uma das muitas fotos aéreas originais e belíssimas que o artista paulistano vem elaborando desde que juntou duas paixões: a fotografia e a aviação, especialmente os helicópteros, que inclusive pilota.

“É impressionante como voando encontro agrupamentos de objetos sucateados: grupos de carros incendiados, só kombis, carros de bombeiros, carros de polícia. Esse cemitério de orelhões eu encontrei por acaso, não tenho ideia do que será feito com eles.”

Do tipo raro dos que falam menos e produzem mais, Cássio Vasconcellos é um dos grandes artistas brasileiros contemporâneos. Ele vem construindo sua obra desde os 15 anos, quando se apaixonou pela fotografia ao pegar a câmera de seu pai durante uma viagem. A partir daí, dedicou-se com obstinação a essa arte que, na época, apanhava para ser reconhecida como tal. Sua primeira série, “Chaminés”, de 1985, foi feita quando aos 20 anos foi para Nova York e passou cinco meses fotografando a cidade. Desde então, para cada série a técnica pode mudar, variando de sofisticados softwares a pinceladas de produtos químicos sobre as ampliações, mas é sempre usada a serviço da poesia que cada imagem possa revelar. Vídeos inquietantes fotografados por Polaroid (série Rostos – 1990) ou polaroides de vistas noturnas de cidades como São Paulo, que acabaram resultando no livro “Noturnos – São Paulo”, são só alguns dos brilhantes exemplos.

Ao longo destes quase 30 anos de carreira, Cássio vem também ajudando a formar e profissionalizar o mercado da arte da fotografia no Brasil. Além de autor respeitado e valorizado, é sócio da galeria Fotospot. No dia 17 de maio, seu terceiro livro,“Aéreas do Brasil” (BEĨ Editora), será lançado na abertura da exposição homônima, no Paço das Artes (Av. da Universidade 1, Cidade Universitária – USP).