Há quem diga que o jeito “paizão” de Luiz Felipe Scolari, o técnico Felipão, seja um recurso usado por ele para transferir, de forma sutil, ainda mais responsabilidade aos 23 “filhos” – os atletas que vão disputar a Copa do Mundo, a partir de 12 de junho, no Brasil. Seja como for, a “família Scolari” não foge aos padrões de formação. O predileto do chefe do clã seria Neymar (Barcelona), o garoto prodígio da turma. Os filhinhos de papai são Bernard (Shakhtar Donetsk), o mais jovem dos convocados, com 21 anos, e Henrique (Napoli), homem de confiança do treinador desde os tempos de Palmeiras. Rebeldes, Ramires (Chelsea) e Jô (Atlético-MG) se contrapõem aos doces e prendados Hernanes (Inter de Milão) e Oscar (Chelsea). Willian (Chelsea) e Dante (Bayern de Munique), especialistas em roubar a bola dos adversários, conquistaram a admiração do patriarca pela disciplina e discrição. Os mais velhos e experientes, como sempre, são os mais cobrados da “prole” – caso de Thiago Silva, do Paris Saint-German (PSG), Fred (Fluminense) e do contestado Júlio César (goleiro do Toronto, Canadá), que servem como referência, além de ajudar a tomar conta da garotada.

O paizão Felipão chamou um grupo homogêneo,
sobre o qual tem ascendência. Já havia feito
assim na vitoriosa campanha do penta

Puxando os “irmãos”, os volantes Luiz Gustavo (Wolfsburg), Paulinho (Tottenham) e Fernandinho (Manchester City) fazem o chamado trabalho pesado: combatem e desarmam o adversário para que a família brilhe. Outro membro da linhagem, o atacante Hulk (Zenit) é, segundo especialistas, uma espécie de faz tudo dentro da “casa” – aceita as orientações táticas e obedece fielmente ao treinador fielmente. E todos sabem como esse elemento é importante para equilibrar o grupo. Scolari também aprecia quem, como ele, não tem medo de cara feia. Se a situação apertar em campo, o técnico pode recorrer ao lateral Maicon (Roma) para o enfrentamento mais aguerrido. Porém, entre a força e a razão, o titular do coração de Scolari para a posição é Daniel Alves (Barcelona), quase um filósofo do futebol por causa da demonstração de bom senso, inteligência e habilidade no amplamente divulgado episódio da banana, em que o atleta comeu a fruta jogada por um torcedor que queria ofendê-lo comparando-o a um macaco.

Se algum dos “filhos” preocupa Felipão, com certeza não são os goleiros Jefferson (Botafogo) e Victor (Atlético Mineiro), que, ao lado de Maxwell (Paris Saint-Germain), são considerados os mais obedientes. Para o colunista Gilmar Ferreira, do “Jornal Extra”, do Rio de Janeiro, apesar de usar critérios técnicos na hora de recrutar os jogadores, o treinador valoriza muito a questão emocional, especialmente em relação ao convívio dos atletas com a comissão técnica. “A exemplo de 2002, ele chamou um grupo homogêneo, sobre o qual tem ascendência”, diz Ferreira. Como poucas vezes se viu em uma convocação de seleção, a família Scolari foi aprovada pelos cerca de 200 milhões de treinadores brasileiros. Mas para o comentarista Paulo Vinicius Coelho, o PVC, da ESPN Brasil, o que torna unânime a relação de convocados é, infelizmente, a falta de concorrência. “Não existe muita contestação porque não temos uma geração de craques, mas apenas de bons jogadores”, afirma. Renato Maurício Prado, da Fox Sports, concorda. “Estamos vivendo um momento de pobreza técnica tão grande que você não tem muito para onde fugir.”

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