Os brasileiros já se acostumaram com duelos eleitorais no Congresso travestidos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Muitas delas transcenderam a retórica meramente eleitoral e avançaram na elucidação de casos que levaram à punição de políticos e empresários. Tantas outras, porém, ao não saírem do discurso e dos holofotes fáceis, terminaram em pizza. Agora, às vésperas da eleição presidencial, governo e oposição travam novamente uma guerra em torno de investigações que, se levadas a sério, podem gerar muito desgaste eleitoral para ambos os lados e, quem sabe até, ajudar a passar o País a limpo. Não é o que se descortina no horizonte. O desacerto e a falta de afinação, até mesmo entre parlamentares do mesmo lado, desenham um jogo que tem tudo para não apresentar vencedores. O enredo começou com o governo tentando livrar-se a todo custo de uma investigação exclusiva da Petrobras. Para isso, contou com o jogo arquitetado pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). O peemedebista aprovou duas CPIs – uma só do Senado e outra composta também por deputados (mista) – destinadas a investigar as operações da estatal.

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CHEIRO DE PIZZA
Presidente do Congresso, Renan Calheiros atua
em sintonia com o Planalto ao criar três CPIs

Ao mesmo tempo, para tentar tirar o foco sobre a Petrobras e fustigar a oposição, os governistas conseguiram aprovar, na quarta-feira 7, o requerimento para instalação da CPI do propinoduto tucano – o escândalo do Metrô de São Paulo. No início da semana passada, os tucanos paulistas já haviam sofrido outro revés. Na terça-feira 6, o Ministério Público estadual afirmou que o conselheiro do TCE-SP, ex-chefe da Casa Civil do governador Mário Covas, Robson Marinho, “recebeu pagamento de vantagens ilícitas” no caso Alstom – esquema de propinas na área de energia nos anos 1990.

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PROPINODUTO
MP acusou o conselheiro Robson Marinho de receber vantagens ilícitas

O prazo para as indicações de quem vai compor as comissões no Congresso foi aberto no fimda última semana. Em fase bem mais adiantada está a CPI exclusiva do Senado sobre a Petrobras. O problema é que integrantes desta CPI só composta por senadores foram minuciosamente escolhidos sob a promessa de não investigar nada. É por isso que, na Câmara, temendo um acordão em forma de pizza assada no forno do Senado, governistas dissidentes se uniram à oposição em favor de uma CPI mista. “Queremos participar das investigações sobre a Petrobras porque achamos que a CPI do Senado, como foi formada, não fará esse trabalho”, explicou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy. Mas tudo indica tratar-se de outra investigação fadada ao fracasso. Isso porque os prazos regimentais exigidos para a instalação da CPI mista empurram o começo dos trabalhos para junho, bem próximo do início da Copa do Mundo. Em seguida, vem o recesso parlamentar, que, por sua vez, é sucedido pelo início da campanha eleitoral. Ou seja, mesmo com a oposição ganhando a batalha em torno da CPI mista, o Planalto conta com o tempo a seu favor.

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Fotos: ERNESTO RODRIGUES/AE; EVELSON DE FREITAS/AE


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