No dia 7 de junho, um navio partirá das Bermudas para estudar uma das paisagens mais feias da Terra: um enorme amontoado de lixo flutuante. O grupo de pesquisadores, bancado pelo instituto americano 5 Gyres, vai coletar, registrar e analisar durante três semanas partes de uma extensa massa plástica que boia no Atlântico Norte. Resultado da poluição e do encontro de diferentes correntes marítimas (confira quadro), os chamados “giros” se formam também no Índico, Atlântico Sul, Pacífico Sul e Pacífico Norte. Nesses pontos, a concentração de lixo é tão alta que ganhou o apelido de “ilhas de plástico”. Estima-se que os cinco giros reúnam 37 mil toneladas de detritos.

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MERGULHO NO PROBLEMA
Pesquisador nada entre lixo. Ao menos 10% do
plástico produzido no mundo vai parar no mar

Marcus Eriksen, diretor-executivo do 5 Gyres, diz que o objetivo da expedição é entender o problema em detalhes para propor soluções. Em primeira instância, ele defende que as empresas produtoras de embalagens assumam a responsabilidade pelos resíduos, já que limpar os mares é caro e, em último caso, tecnicamente inviável. “Se uma empresa não é capaz de recolher seus resíduos de volta do consumidor, ela deveria começar a usar outros materiais, e não o plástico”, afirma. Essas manchas de sujeira sólida são o símbolo de um problema que tem o plástico como grande vilão. “Se colhermos amostras em qualquer ponto do mar, vamos encontrar vestígios plásticos”, afirma Alexandre Turra, oceanógrafo e professor da Universidade de São Paulo (USP).

O problema é ainda pior porque garrafas e sacolas se fragmentam e se espalham pela água, formando os chamados microplásticos. O material funciona também como vetor de pesticidas e óleos. Os pesquisadores querem saber como essas substâncias contaminam tecidos e sangue dos animais marinhos e se essa contaminação pode atingir quem os consome – incluindo os seres humanos. Segundo o 5 Gyres, em torno de 44% de todas as aves marinhas e 22% dos cetáceos, tartarugas e peixes possuem plástico ao redor ou dentro do corpo. “Quando um animal confunde plástico com alimento, ele pode sofrer bloqueios internos, desidratação, inanição e morrer”, explica Eriksen.

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AMPLAS CONSEQUÊNCIAS
Detritos no mar prejudicam as buscas pelo
avião da Malaysia Airlines desaparecido no Índico

Aproximadamente 10% dos mais de 200 milhões de toneladas de plástico produzidos por ano no mundo são descartados no ambiente marinho. Cerca de 80% do lixo chega às águas levado por ventos, chuvas e rios. Outros 20% vêm de navios ou plataformas, inclusive da indústria pesqueira. Recentemente, o lixo resultante da pesca dificultou a procura pelo voo da Malaysia Airlines que desapareceu no Oceano Índico. Madeira, isopor, redes de náilon e sinalizadores foram confundidos com destroços e resultaram em dias de buscas infrutíferas.

O problema não está restrito ao alto-mar. Pesquisadores do Instituto Oceanográfico Woods Hole, de Massachusetts, nos Estados Unidos, revelaram o surgimento de um novo tipo de biodiversidade marinha batizado de “plastisfera”. São micro-organismos, moluscos e até peixes que se associam ao plástico e transformam o material em um veículo de migração e invasão de espécies, da mesma forma que ocorria no passado com cascos de navios.

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Foto: Eyevine/Shen Ling Xinhua