Como no Brasil tudo mais é secundário diante da inesgotável disposição dos políticos de resolver assuntos que lhes dizem respeito – antes mesmo daqueles de interesse público –, uma nova e candente questão está na ordem do dia. Partidos à direita e à esquerda, líderes governistas e de oposição, candidatos interessados e simpatizantes não falam de outra coisa: o fim do mecanismo da reeleição. Não há crise aérea nem planos de crescimento – nem aqueles do tamanho de um PAC – que ocupem mais a agenda e as preocupações dessa turma. Parlamentares aumentaram seus salários, cabularam as sessões das segundas-feiras e daqui por diante vão tratar prioritariamente dos mandatos de seus comandantes. Tucanos e petistas lideram os debates sobre o assunto. É algo que por si só deveria despertar desconfiança. Afinal, foram justamente o PSDB, com o mandato duplo de Fernando Henrique, e depois o PT, com Lula vivendo a fase dois de seu governo, os que mais se beneficiaram do mecanismo da reeleição. É aquela velha história: já usaram e abusaram do modelo e agora querem algo novo. O fim da reeleição abre brecha para o mandato de cinco anos. Bom para Lula, que não precisa esperar tanto tempo rumo a mais uma tentativa nas urnas. Bom para os tucanos Aécio e Serra, candidatos à cadeira presidencial, porque podem acomodar um acordo de sucessão direta num espaço menor de anos. Em resumo, ter ou não reeleição é discussão que vai deixar à margem os chamados sagrados interesses nacionais. Está sendo tratada na raia miúda dos conchavos partidários. Virou negócio de comadres. Os interessados defendem sem pudor a questão. O ministro da Justiça petista, Tarso Genro, pontificou: “O instituto da reeleição está esgotado.” O tucano Aécio fez coro: é contra a reeleição e a favor do mandato de cinco anos. O líder do PSDB, Arthur Virgílio, sacramentou: “Há clima para votarmos o fim da reeleição.” Ainda meteram a colher no tema os caciques já contemplados, FHC e Lula, ambos aparentemente lavando as mãos. O primeiro disse que a mudança atende a “interesses tópicos”. O segundo alegou que só topa com o aval dos partidos adversários. E você, foi consultado?